“O relatório final da EY respeitante à auditoria independente aos atos de gestão da CGD no período de 2000 a 2015 foi emitido no dia 27 de junho de 2018. À exceção do relatório final, todos os demais documentos produzidos pela EY respeitantes à referida AIAG [auditoria] não devem ser considerados, por configurarem documentos de trabalho, terem áreas em aberto, estarem em atualização permanente, e por possuírem informação parcial, provisória, não verificada ou em validação”, sustenta a consultora num esclarecimento divulgado hoje.
Referindo-se à versão revelada na CMTV pela antiga deputada do Bloco de Esquerda Joana Amaral Dias e depois noticiada em vários órgãos de comunicação como “um documento, identificado como preliminar e datado de 15 de dezembro de 2017”, a consultora sublinha que “apenas o relatório final emitido em 27 de junho de 2018 vincula a EY”.
Contudo, diz, sobre o teor deste relatório final, “ou sobre qualquer matéria conexa”, a EY “não produzirá qualquer comentário adicional por ser confidencial e sujeito ao segredo profissional”.
No esclarecimento, a consultora recorda ter sido contratada em março de 2017 pela CGD para realizar uma auditoria “que consistiu numa análise de conformidade dos atos de gestão com as normas internas e os princípios regulamentares, em vigor no período de 2000 a 2015, para uma amostra de operações de crédito, aquisição e alienação de ativos e operações relacionadas com decisões estratégicas”.
Na versão preliminar da auditoria da EY, datada de dezembro de 2017 e enviada à agência Lusa por Joana Amaral Dias, a concessão de créditos mal fundamentada, a atribuição de bónus aos gestores com resultados negativos, interferência do Estado e ineficiências na gestão de risco são os principais problemas apontados à CGD.
No relatório da auditoria a consultora diz ter encontrado sete operações de concessão de crédito com risco grave ou elevado e perdas, só nestas, de mais de 1000 milhões de euros.
No total, as perdas com dezenas de operações auditadas pela consultora chegam quase aos três mil milhões de euros.
Além disso, a EY aponta que os administradores da CGD receberam “remuneração variável” e “voto de confiança”, mesmo com resultados negativos, numa análise ao período 2000-2015.
A auditoria apurou também que existem “importantes insuficiências” organizacionais que poderão ter contribuído para decisões pouco fundamentadas na concessão de crédito.
Por outro lado, a intervenção do Estado nas decisões do banco público foi apontada na auditoria como sendo um dos fatores com uma “influência adversa” no desempenho de alguns ativos da instituição.
Contactada pela Lusa sobre as consequências desta auditoria, a Procuradoria-Geral da República (PGR) recordou que “tal como foi informado em julho último, o relatório relativo à CGD foi recebido e junto a um inquérito já existente a correr termos no DCIAP [Departamento Central de Investigação e Ação Penal]”.
Mais recentemente foi recebido na PGR “um pedido, proveniente da Assembleia da República (Comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa), de acesso ao referido relatório. A solicitação foi encaminhada para análise no âmbito do processo respetivo”, de acordo com fonte oficial do organismo.
A PGR recordou ainda que “o inquérito onde se investigam factos relacionados com a CGD encontra-se em investigação, estando em curso diligências abrangidas por segredo de justiça. Não tem arguidos constituídos”.
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