“As principais vantagens da ‘bitcoin’ são a rapidez, a privacidade, o funcionamento 24 horas, os custos baixos e o limite de moedas em circulação, o que mantém de alguma forma a credibilidade deste meio de pagamento”, indicou Pedro Lino, economista da Dif Broker, à Lusa.
O especialista alertou, contudo, para que “a privacidade é também uma desvantagem, uma vez que atrai atividade criminosa, como os pedidos de resgate ou o pagamento de materiais perigosos, como forma de sair da supervisão do sistema financeiro, existindo mais permeabilidade ao branqueamento de capitais”.
No mesmo sentido, Rui Bernardes Serra, economista-chefe do Montepio, frisou que a emissão de ‘bitcoin’ não é efetuada nem controlada por um banco central, “estando vulnerável a ataques de ‘hackers’, o que constitui uma desvantagem”.
E outro aspeto negativo, acrescentou, é que “o anonimato das transações que ocorrem na rede ‘bitcoin’ possibilita que a moeda seja utilizada como forma de pagamento em transações ilegais”.
Contudo, Rui Bernardes Serra adiantou que esta independência é muitas vezes defendida como uma vantagem, “dado que a ‘bitcoin’ é produzida de forma descentralizada por milhares de computadores, mantidos por pessoas que “emprestam” a capacidade das suas máquinas para criar ‘bitcoins’ e registar todas as transações realizadas”.
Na opinião de Filipe Garcia, economista da IMF - Informação de Mercados Financeiros, a ‘bitcoin’ não é atualmente uma forma de pagamento mais barata para o utilizador, nem mais rápida, nem mais eficiente.
De acordo com o especialista, “tem havido tentativas de desenvolvimentos tecnológicos para tornar a ‘bitcoin’ eficiente nos pagamentos, mas não é certo que esse seja o papel da ‘bitcoin’ no futuro”.
“Uma coisa é a ‘bitcoin’ poder ser utilizada para pagamentos e outra é ser o meio principal de pagamento, algo que me parece muito improvável”, considerou Filipe Garcia.
Para Pedro Lino, outras desvantagens da ‘bitcoin’ são o facto de nem todos os comerciantes aceitarem este meio de pagamento, o facto de ser ilegal negociar ‘bitcoins’ em alguns países, existir o risco de perda total, uma vez que, em caso de perda das chaves privadas, fica-se sem acesso à conta, e “não existir sistema de garantia de ‘depósitos’”.
Na opinião de Rui Bernardes Serra, as principais desvantagens da ‘bitcoin’ são a volatilidade e o facto de não ser garantida por um banco central.
“A subida das cotações das ‘bitcoins’ foi enorme, provocando subidas abissais na riqueza de algumas pessoas, o que acaba por ser um fator de atração para novos investidores que visam ‘um lucro fácil’”, referiu o economista, exemplificando que alguém que tenha investido um dólar no dia 19 de julho de 2010, teria 178 887 dólares (cerca de 158 mil euros) no dia 31 de dezembro de 2017, e um ano depois, no final de 2018, teria apenas 45 927 dólares (cerca de 40 mil euros).
Também Filipe Garcia destacou que a ‘bitcoin’ teve uma enorme volatilidade de preços desde o seu lançamento.
“Está documentado que a maioria dos investidores/especuladores entrou no ativo apenas por causa da alta de preços e, por isso, entrou com o preço mais alto e está a perder de forma significativa”, salientou.
No entender do economista da IMF, um investidor informado poderá ter ‘bitcoins’ no portfólio, “mas tem de ter noção da volatilidade do preço, da possibilidade de todo o sistema e mercado ruírem e o ativo poder voltar a valer zero”.
Contudo, Filipe Garcia acrescentou que, nesse aspeto, a moeda virtual difere pouco da maioria dos investimentos, mas alertou para que a maioria dos detentores de ‘bitcoin’ não compreende o ecossistema e comprou apenas para vender com ganhos.
Questionados sobre se a ‘bitcoin’ pode servir um esquema fraudulento em pirâmide ou vir a ser o dinheiro do futuro, os especialistas ouvidos pela Lusa manifestaram opiniões distintas.
“Não creio que seja um esquema em pirâmide, a sua criação nunca teve esse propósito. Houve variadíssimas emissões de moedas criptografadas que tiveram apenas esse objetivo, mas não a ‘bitcoin’. A evolução da ‘bitcoin’ sugere que sofreu uma bolha especulativa, mas não um esquema fraudulento em pirâmide”, considerou Filipe Garcia.
Na opinião de Pedro Lino, é pouco provável que a ‘bitcoin’ seja o dinheiro do futuro.
“É mais provável que Apple, Amazon, Google ou Alibaba tomem conta deste mercado de pagamentos do que a ‘bitcoin’. No entanto, uma coisa é certa, a desmaterialização do dinheiro e a digitalização dos pagamentos/transações veio para ficar, o que em parte se deve à ‘bitcoin’”, frisou o economista da Dif Broker.
“Para já, no dia a dia, não sentimos falta da ‘bitcoin’ porque o sistema financeiro, com os seus defeitos, é estável e prático. Mas nos países onde isso não acontece, a ‘bitcoin’ foi imediatamente uma alternativa procurada”, frisou Filipe Garcia, mostrando-se convicto de que a maioria das criptomoedas irá desaparecer, mas não todas. “Elas irão evoluir de acordo com a sua pertinência em cada momento para a sociedade”, antecipou.
Já Rui Bernardes Serra recordou que, de acordo com as normas do Banco Central Europeu (BCE), a ‘bitcoin’ não é considerada uma moeda eletrónica por não preencher alguns requisitos da diretiva que orienta as transações de dinheiro eletrónico.
“Em outubro de 2017, o Banco Central do Brasil alertou sobre o risco de pirâmide utilizando ‘bitcoin’, e na génese desse alerta terá estado a evolução dos preços que se verificava então, mas é provável que, num contexto de uma tecnologia melhorada, venha efetivamente a ser o dinheiro do futuro”, concluiu o economista-chefe do Montepio.
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