“As coisas estão tão mal que até concordo consigo”, gracejou João César das Neves, professor da Universidade Católica de Lisboa, dirigindo-se a Francisco Louçã. Os dois economistas participaram num debate sobre a economia portuguesa, promovido pela Caixa Geral de Depósitos (CGD), que decorreu hoje em Lisboa.
João César das Neves, que em 2016 publicou o livro ‘As 10 questões do Colapso – Portugal: a provável derrocada financeira de 2016-2017”, reconheceu que não houve nenhum colapso quando previa, mas afirmou que “ainda existe esse risco”.
Para o professor da Universidade Católica, os principais riscos para a nova crise em Portugal é a “recuperação hesitante” da economia, as “finanças frágeis” e questões estruturais, como o envelhecimento da população, a desigualdade e a educação da força do trabalho.
Sobre o Produto Interno Bruto (PIB), César das Neves afirmou que a recuperação é “bastante boa” quando comparada com a “desgraça anterior, verificada nos anos da troika (2010-2014), mas que deixa a desejar face a períodos anteriores.
Por outro lado, o economista criticou a redução do défice via o aumento de receitas e não a redução da despesa, considerando que Portugal tem um “problema de fundo social” ao estar “capturado por uma parte da sociedade que vive do Estado”, como os pensionistas e funcionários públicos.
Por sua vez, Francisco Louçã, referindo-se ao livro de César das Neves, criticou o “fantasma das previsões” que acompanha a economia portuguesa, lembrando que, mesmo com a crise financeira à porta, em 2008, as previsões “estiveram sempre erradas”.
Ainda assim, o professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) admitiu que existem “todos os riscos para uma crise”, apontando entre eles a possibilidade de uma bolha financeira internacional, o euro e (outras) questões estruturais.
“O aumento das dívidas públicas, aumento dos balanços dos bancos centrais, a redução dos preços, em função da longa recessão que nos deixou muito próximos do perigo da deflação”, bem como “a não correspondência entre a disponibilização de liquidez e a disponibilidade para a concessão de crédito” foram riscos enumerados pelo antigo dirigente partidário.
Nesse sentido, Louçã alertou questionou como é que Portugal deve negociar o fim do ‘Quantitative Easing’, programa de compra de ativos do Banco Central Europeu (BCE), de modo a evitar opções que teriam efeitos recessivos – como a venda de ativos.
Problemas estruturais, Louçã concordou com César das Neves no fraco investimento, apontando também o elevado desemprego jovem.
Por fim, o professor ISEG considerou que o turismo não é modelo de desenvolvimento da economia, porque não traz valor acrescentado e assenta, maioritariamente, em empregos de baixa formação.
“Haverá sempre tensões, mas atrevamo-nos a procurar soluções”, disse.
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