"Para os setores mais afetados, que não beneficiaram da continuação da atividade, vamos precisar de lhes dar mais tempo", afirmou Siza Vieira num debate 'online' intitulado "Recuperar Portugal de lés a lés", promovido pelo Novo Banco e transmitido nos canais da Global Media, referindo-se às moratórias de crédito concedidas para responder à crise.
O ministro salientou que "a crise está a ter um impacto desigual e a saída da crise está a ter também um ritmo desigual" e, por isso, o Governo tem "conversado com o setor bancário" com o foco nos setores de atividade mais afetados pela pandemia.
"Estamos a falar do turismo, restauração, algumas áreas do comércio a retalho, de alguns segmentos do transporte, alguns segmentos da indústria transformadora", acrescentou Siza Vieira.
"As moratórias, para as empresas a quem o ano correu bem, foram uma ajuda muito grande para o reforço da sua caixa e para uma poupança empresarial muito significativa", pelo que estas empresas podem agora retomar o serviço de dívida que têm para a frente, defendeu o governante.
Já para as empresas mais afetadas, o ministro explicou que será dado aos bancos e às empresas "a oportunidade de discutirem as condições de como podem proceder ao refinanciamento ou à reestruturação da sua dívida sob moratória" sendo que as empresas podem "dar uma garantia sobre uma parte do crédito que está em moratória, para facilitar o esforço que os bancos vão ter de fazer".
"Estamos a falar de empresas viáveis que ficaram afetadas pela pandemia e que precisam apenas de um apoio, seja de tempo, seja de um capital adicional para poderem recuperar", realçou Siza Vieira.
O ministro indicou que pretende que até meio de julho seja dado "o quadro claro" às empresas e aos bancos para "poderem ter essas conversas, que em muitos casos, já estão a ser tidas".
Siza Vieira disse que estas medidas serão combinadas com outras, lembrando que no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) Portugal reservou 1.300 milhões de euros para a capitalização de empresas, sendo uma parte usada para recapitalizar as empresas afetadas pela pandemia e que tenham "alguma dimensão".
As outras empresas que já estão em incumprimento ou que já estavam em dificuldades antes da pandemia "vão precisar de um esforço maior de reestruturação, salientou o ministro, acrescentando que neste campo é preciso "criar um quadro mais favorável para que os credores e os acionistas possam reestruturar as empresas".
Face à anterior crise financeira, "os bancos estão mais capitalizados e portanto podem gerir melhor estas situações de reestruturação e o Estado também está disponível para apoiar com linhas de crédito", sublinhou Siza Vieira.
Por sua vez, o presidente da CIP - Confederação Empresarial de Portugal, António Saraiva, que também participou no debate, realçou que, apesar de a banca estar mais capitalizada, "causa mais dificuldades no acesso ao crédito às empresas" e apelou aos bancos que tenham "mais ousadia, que arrisquem mais".
"É preciso que a banca seja um parceiro de risco", defendeu António Saraiva, acrescentando que o Estado deve, por sua vez, garantir estabilidade e previsibilidade fiscal às empresas e ser "mais ambicioso" e avançar com reformas.
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