Este é o terceiro ano em que o Portugal Air Summit ocorre em Ponte de Sor, voltando a ser palco de conferências, feira de expositores de empresas do mercado aeronáutico e aeroespacial e festival de espetáculos aéreos. Estes três vetores em paralelo constituem aquilo que Nuno Molarinho, CEO da TheRace, uma das entidades organizadoras deste evento, considera ser a “receita vencedora”, que fez deste um dos mais importantes eventos do setor na Europa.
Mas o objetivo do Portugal Air Summit neste ano, confessou o organizador ao SAPO24, é mais “ambicioso”, pois procura fazer um “casamento, entre o que as empresas querem e o que as universidades dão, e que muitas vezes não bate a bota com a perdigota.” Apontando para um “desfasamento” entre a academia e o mercado, Nuno Molarinho lembra que o problema reside em ambas as partes.
Por um lado, os jovens que estão a ser formados tendem a procurar emprego fora do país por acreditarem que existe falta de oportunidades em Portugal, o que para o CEO “não é verdade”, pois “o setor aeroespacial está a explodir, com um crescimento inacreditável” no país, e isso significará o nascimento de “um conjunto de carreiras e profissionais que até então não existiam cá”.
No entanto, para Nuno, parte do problema é que “a indústria comunica mal” e demonstra-se incapaz de capitalizar os recursos humanos no nosso país. "Em Portugal temos muito bons técnicos”, defende o CEO, acrescentando que “não faz sentido que estas empresas sediadas no nosso país e que precisam desses recursos, os deixem ir embora", pelo que o objetivo deste ano do Air Summit passa por “alertar e dar voz a quem tem empresas que precisam destes técnicos". É aí onde radica o tema “Powering Human Capital”, defendendo Nuno Molarinho que é preciso haver foco “nas pessoas”.
Como tal, uma das iniciativas que vai decorrer no âmbito desta edição é o Portugal Air Summit Universidades - PAS U, pensada, segundo um comunicado de imprensa disponibilizado pela organização, para os “jovens interessados em obter informação privilegiada sobre as carreiras disponíveis em Portugal, empregabilidade e formação pessoal, assim como as soft skills e qualificações que um profissional do setor deverá possuir”.
O “PAS U” tem decorrido num périplo que tem atravessado as universidades do país com várias iniciativas, desde a presença de um orador reconhecido no setor até à instalação de simulador de voo no local. Para além de procurar alunos interessados no setor, a organização pretende ainda premiar “os projetos que se destacam por uma intervenção relevante e inovadora na área da Ciência e da Cultura Aeroespacial ou Aeronáutica”, através do Prémio Portugal Air Summit 2019. As candidaturas podem ser submetidas até dia 30 de abril, mediante as instruções do regulamento presente no site.
Esta abordagem, conta Nuno Molarinho, foi tomada porque, ao fim de três edições, a organização sentiu “que havia esta lacuna”. “O primeiro evento, em 2017, foi para percebermos como estava o mercado e em 2018 foi para mostrarmos aos parceiros que tínhamos a capacidade de produzir um evento em Portugal neste setor que estava a crescer cada vez mais", explica o CEO. Isto, ressalva, tendo em conta que "o evento é gratuito", não tendo “um cariz comercial” e “beneficiando exclusivamente toda a indústria", matriz que a organização quer manter pois, “no dia em que passar a ser uma coisa comercial, fica refém das marcas e das suas vontades".
No entanto, como resultado do crescimento do Portugal Air Summit, não só os espaços dos expositores na feira “estão já esgotados”, como o organizador diz que “em vez de haver apenas um auditório, vão existir três a correr em paralelo”, trazendo oradores nacionais e internacionais. Como parte do esforço de internacionalização, Nuno Molarinho confirmou que a organização conseguiu com que a NASA e a Agência Espacial Europeia marcassem presença na edição deste ano, assim como o evento Lusoavia, centrado na discussão dos temas fundamentais da aviação nos países lusófonos.
Outras das confirmações, apesar de ainda não ter sido revelado o programa desta edição, é a presença de Shaesta Waiz. Com 31 anos, Waiz tornou-se a primeira piloto aviadora civil do Afeganistão e no dia 30 vai a Ponte de Sor para falar da sua história de vida e procurar inspirar outras mulheres a seguir carreiras no setor. Nuno conta que este era um desejo antigo, mas que a afegã apenas pôde vir nesta edição.
Nascida num campo de refugiados no Afeganistão, a família de Shaesta Waiz fugiu para os EUA, onde a piloto cresceu e formou-se, tornando-se não só a primeira mulher do seu país de origem a obter este título, como também a mais jovem piloto a viajar sozinha pelo mundo num avião monomotor. Para além da sua atividade profissional, Waiz é a fundadora da Dreams Soar, uma ONG que não só “incentiva rapazes e raparigas a lutar pelos sonhos", como, segundo se pode ler no comunicado da organização do certame, procura “inspirar outras mulheres a integrarem a área STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática) e acabar com o estigma que estas profissões são de cariz masculino”.
Mas para além dos ciclos de conferências e da secção de expositores, regressam as performances ao vivo, quer através de corridas vertiginosas de oito aviões em simultâneo no Air Race, quer através de demonstrações de virtuosismo de pilotagem no Air Show. Quanto a este lado lúdico, Nuno Molarinho promete “várias surpresas”.
Depois do “sucesso” que foram as demonstrações entre carros e aviões no ano passado - que regressam nesta edição com o patrocínio da Lexus -, também as motas vão dividir o protagonismo com as aeronaves em Ponte de Sor. Para além disso, um convidado especial “vai fazer uma passagem com algo que nunca vimos em Portugal”, mas que o organizador prefere manter em segredo.
Outro evento que Nuno Molarinho confirmou é a organização de um “espetáculo inédito” no nosso país: um concerto de orquestra ao vivo a tocar arranjos de músicas referentes à aviação - de filmes como África Minha e o Top Gun - acompanhado de atividade aérea com drones, balões de ar quente e aviões por detrás do palco.
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