"Quando marcarmos o voto [parlamentar] sobre o acordo final a que chegarmos com a UE, vamos garantir que esta casa terá acesso à análise que o governo fizer para que seja tomada uma decisão informada", prometeu o sub-secretário de Estado para a Saída da União Europeia, Steven Baker.

Em resposta a uma pergunta do trabalhista Keir Starmer na Câmara dos Comuns, argumentou que o governo não pode colocar este tipo de informação no domínio público até estar concluída nem enquanto as negociações estão em curso, porque poderia prejudicar o interesse público.

"O artigo é uma interpretação seletiva de uma análise preliminar. É uma tentativa de prejudicar a nossa saída da UE", criticou, referindo que estão a ser feitas uma série de análises abrangentes sobre o impacto do ‘Brexit' e que o documento em causa não foi aprovado.

Em causa está um prognóstico preparado por elementos de diferentes ministérios que estima que a economia britânica será fortemente afetada pela saída do mercado interno.

O conteúdo do documento, publicado pelo site de notícias BuzzFeed, diz que, mesmo que o Reino Unido chegue a um acordo de comércio livre com a UE, o crescimento económico nos próximos 15 anos será 5% inferior às estimativas atuais.

Se não existir um acordo, acrescenta, e forem aplicados os termos da Organização Mundial de Comércio, o crescimento cairá 8%, enquanto que, se permanecer no mercado único, mesmo sem ser membro da UE, o declínio será de 2%.

O governo britânico já deu a conhecer a decisão que sair do mercado interno, mas pretende negociar um acordo que permita algum acesso, ao mesmo tempo que espera incrementar as trocas comerciais com países terceiros.

Porém, este relatório refere que os benefícios trazidos por novos acordos bilaterais com os EUA, China, Índia e outros países não serão suficientes para compensar a perda de receita das trocas com a UE, atualmente o maior parceiro comercial da Grã-Bretanha.

Membros dos principais partidos no parlamento britânico, incluindo Conservadores e Trabalhista, exortaram o governo a publicar o documento, que se junta a outros relatórios pessimistas produzidos por funcionários públicos sobre as consequências do ‘Brexit' para a economia britânica.

Deputados conservadores como Ian Duncan Smith e Nigel Evans, conhecidos por defenderem o ‘Brexit', desvalorizaram o valor da análise, alegando que outras previsões feitas no passado por serviços do governo não se concretizaram.

Um relatório do ministério das Finanças publicado em abril de 2016 sobre o impacto económico a longo prazo da saída da UE já previa um impacto negativo, em linha com as estimativas da maioria dos economistas.

Na altura, estimava que um acordo semelhante ao que a UE assinou com o Canadá iria reduzir o Produto Interno Bruno (PIB) britânico em 6,2%, um acordo semelhante ao da Noruega reduziria o PIB em 3,8% e a ausência de acordo resultaria numa uma quebra de 7,5%.

Mas uma análise do impacto económico imediato após o referendo, publicado um mês depois, falhou ao indicar que o desemprego iria disparar e que a economia iria entrar em recessão, o que não se verificou, mesmo se não teve em conta medidas tomadas, entretanto, pelo Banco de Inglaterra para apoiar a economia britânica.

Recentemente, o governo autónomo da Escócia também publicou um relatório que previa que o PIB da Escócia seria 8,5% inferior em 2030 do que se ficasse na UE caso o Reino Unido não chegue a acordo com Bruxelas, mas apenas menos 2,7% se o país tiver acesso ao mercado único.

Um potencial acordo comercial entre o Reino Unido e a UE vai ser objeto de negociações a partir de março, porém existe um grupo de políticos e empresários, sobretudo do Partido Conservador, que defende uma rutura total com os 27 após o ‘Brexit', em março de 2019.

A divergência sobre o tema deverá refletir-se nos dois dias de debate na Câmara dos Lordes sobre a proposta de lei para transpor a legislação europeia para o direito britânico, hoje e quarta-feira, prosseguindo um processo legislativo que deverá prolongar-se até maio.