Na Trofa, no dia em que foram inaugurados os Paços do Concelho de um Município criado há 24 anos, Marcelo Rebelo de Sousa começou o discurso dirigindo-se a Ana Abrunhosa a quem, disse, queria dizer “duas coisas”.

“E como não tenho tido oportunidade de o dizer digo-lhe hoje. Quando aceitamos funções políticas sabemos que é para o bom e para o mal. Não somos obrigados a aceitar. Sabemos que são difíceis, são árduas, que estão sujeitas a um controlo e a um escrutínio crescente – a democracia é isso – e há dias bons e dias maus, dias felizes e dias infelizes. A proporção é dois dias felizes por 10 dias infelizes”, referiu.

E prosseguiu, ainda dirigido à ministra, com um aviso sobre a execução dos fundos europeus.

“Este é um dia super feliz, mas há dias super infelizes. E verdadeiramente super infeliz para si será o dia em que eu descubra que a taxa de execução dos fundos europeus não é aquela que eu acho que deve ser. Nesse caso não lhe perdoo. Espero que esse dia não chegue, mas estarei atento para o caso de chegar”, referiu.

Depois, dirigindo-se a milhares de trofenses presentes numa cerimónia que contou com momentos evocativos e culturais e teve convidados de vários quadrantes políticos, Marcelo Rebelo de Sousa falou da história de criação do concelho da Trofa, por desagregação face a Santo Tirso, ambos no distrito do Porto, que acompanhou enquanto líder da oposição ao Governo e por influência do então líder parlamentar do PSD, Luís Marques Mendes.

“O teimoso e obstinado Luís Marques Mendes que, se não é um dos pais, merece pelo menos o título de tio da Trofa”, disse.

Marcelo Rebelo de Sousa contou que a questão da Trofa foi “um dos problemas maiores” que enfrentou enquanto líder do PSD, num processo que estava a tratar a par da revisão constitucional, da adesão ao Euro e da regionalização.

“E pelo meio lá fui tentando apaziguar os de Santo Tirso. Foi um processo longo porque os nortenhos são ligeiramente teimosos. Foi um longo período, esse, e terminou bem e não era fácil que terminasse bem”, disse o Presidente da República num discurso com muitos elogios à população “persistente e apaixonada” da Trofa.

O chefe de Estado também falou da importância do poder local e brincou com o legado que o seu sucessor terá ao falar da importância da proximidade com o povo.

“O poder local é um dos exemplos da força da nossa democracia. Não é o único, mas é muito importante (…). Eu nem comparo a felicidade de ser Presidente da República, mesmo vivendo-a apaixonadamente, com a felicidade de ser autarca porque ainda se é mais próximo do povo. O Presidente faz os impossíveis por ser próximo do povo. Quero deixar esse legado ao meu sucessor, é uma espécie de ónus, um encargo funcional que transmito no momento em que o abraçar no dia 09 de março de 2026”, disse.

Com a inauguração de um novo edifício, o Município da Trofa deixa hoje de ser o único a não ter Paços do Concelho.

O novo espaço custou 10,4 milhões de euros e situa-se a poucos metros do Parque Nossa Senhora das Dores, no centro do concelho nascido há 24 anos.

Os Paços do Concelho da Trofa foram edificados perto da linha férrea e situado numa antiga fábrica de moagem.

Entre o lançamento da obra e a inauguração passaram-se três anos.

Até aqui os serviços da autarquia estavam espalhados por 17 espaços diferentes.

(Notícia atualizada às 16h09)