“Temos a dívida pública a aproximar-se muito significativamente da média da zona euro. Se até ao final desta década mantivermos os indicadores existentes em 2019 (saldo primário e diferencial da taxa de crescimento face à taxa de juro nominal) vamos aproximar-nos de níveis de dívida que estão na casa dos 70% do PIB, claramente abaixo da média do euro”, afirmou Mário Centeno, em conferência proferida na Universidade dos Açores, em Ponta Delgada.

A 31 de maio, o BdP comprou 3,1 mil milhões de euros de dívida pública portuguesa, uma redução de 84,5% face ao ano anterior, reflexo da viragem na estratégia de política monetária da zona euro.

A diminuição para 3,1 mil milhões de euros de dívida pública portuguesa comprada pelo BdP significa uma redução de 84,5% face a 2021 e resulta do fim das compras líquidas de ativos, respetivamente, em abril (PEEP) e julho (APP).

Mário Centeno referiu que Portugal “está a convergir com a zona euro, em termos reais e económicos desde 2016”.

O governador sustentou que isso deve-se, entre outros fatores, à “extraordinária transição educativa que se está a passar em Portugal”.

Centeno referiu que Portugal “estava na cauda dos países mais desenvolvidos em que os alunos concluíam pelo menos o ensino secundário (40%)” e, “20 anos passados, este número transformou-se em 85%”, estando-se “claramente acima da média da área do euro”.

O responsável pelo BdP considera que “esta revolução silenciosa começou nas famílias portuguesas, que são as obreiras dessa transição”, sendo “absolutamente essencial para se poder classificar o crescimento que existe hoje em Portugal como estrutural, porque ele está a transformar a estrutura produtiva portuguesa”.

O governador associou ao crescimento estrutural a “estabilidade nas políticas e financeira que finalmente se conquistou”, salvaguardando que a dívida portuguesa “paga menos do que a espanhola, que a belga, muito próxima da francesa”.

Mário Centeno sublinhou que o risco “foi reduzido porque, pela primeira vez, num contexto de crise, as famílias e as empresas reduziram a sua dívida”.

“Nunca antes tinha acontecido em Portugal. Hoje, em 2023, a dívida líquida de depósitos das famílias e das empresas é inferior à que tínhamos em 2019”, afirmou, tendo salvaguardado que “Portugal, hoje, não é a mesma economia”.

No país, quando comparado o primeiro trimestre de 2019 com igual período de 2023, dados da Segurança Social revelam que existem “mais 348 mil empregos”, sendo que 112 mil “foram criados nos setores da informação, comunicação, imobiliário, consultoria e ciência”, que “eram minoritários” e representavam há quatro anos 10,8% do emprego total, apontou.

Durante a crise pandémica e, depois na sua recuperação, estes setores “são responsáveis por mais de um terço dos empregos criados em Portugal”.

O governador apontou que o turismo (alojamento, restauração e transportes) “não é responsável pela maior fatia da criação de emprego, antes pelo contrário”, tendo este “crescido menos”, gerando 44 mil postos de trabalho, quando, em 2019, estava em valores acima dos setores agora em crescimento.