“Desde a primeira hora que nós temos dito que todas as auditorias são bem-vindas. É essa a nossa maneira de estar na gestão e, portanto, esta também será”, afirmou hoje António Ramalho, em reação ao pedido do Presidente da República e do PSD para que a auditoria ao Novo Banco seja feita não só relativamente ao período anterior à resolução do banco mas também na atualidade.
“O Novo Banco em 2017 foi auditado pela Price [PricewaterhouseCoopers – PwC], este ano está a ser auditado pela Ernst & Young, que está a terminar a auditoria, e naturalmente teremos todo o gosto em ter um terceiro auditor que nos faça a análise de toda a nossa atividade, é sempre positivo”, frisou o presidente do Novo Banco.
António Ramalho falava à margem da inauguração da exposição "Ficção e fabricação. Fotografia de arquitetura após a Revolução Digital", no MAAT - Museu Arte Arquitetura Tecnologia, em Lisboa, depois de o presidente do PSD ter hoje defendido que a auditoria ao Novo Banco deveria incluir o “que neste momento” se passa naquela instituição, considerando ser “de bom tom” certificar se o dinheiro dos contribuintes está a ser devidamente aplicado.
A este propósito, António Ramalho recordou que “os créditos que fazem parte do mecanismo de capital contingente são todos eles anteriores à resolução”.
“Naturalmente, a análise dos processos e procedimentos, que é comum também na auditoria da Caixa, faz todo o sentido que seja feita também no caso do Novo Banco”, referiu, adiantando que “todas as auditorias também a períodos posteriores podem ser de utilidade”.
“Nós naturalmente já hoje auditamos e auditamos até com duas auditoras, uma terceira auditora é bem-vinda”, reforçou.
Questionado sobre se o Novo Banco já tem a aprovação para a injeção dos 1.149 milhões de euros, anunciada no início de março, António Ramalho respondeu que “essa injeção será apenas solicitada formalmente após a aprovação das contas na assembleia-geral”, que decorrerá no início do próximo mês.
“É esse o procedimento. Depois há uma verificação dos dados apresentados e, no prazo de um mês, é então realizada a injeção”, explicou.
Questionado sobre se o preocupa o ritmo das injeções solicitadas pelo Novo Banco ao mecanismo contingente, uma vez que, considerando a injeção de 1.149 milhões de euros o total de injeções nos dois primeiros anos [2018 e 2019] atingirá cerca de metade dos 3,89 mil milhões de euros acordados para um prazo de oito anos, o presidente do banco respondeu que “também metade dos problemas já estão totalmente resolvidos”.
“Estaria preocupado se as injeções fossem demasiadamente lentas. Isso significaria que teríamos oito anos de dificuldades na recuperação do banco”, indicou.
O presidente do PSD defendeu hoje que a auditoria ao Novo Banco deveria incluir o “que neste momento” se passa naquela instituição, considerando ser “de bom tom” certificar se o dinheiro dos contribuintes está a ser devidamente aplicado.
No dia 01 de março, o Novo Banco anunciou que vai pedir uma injeção de capital de 1.149 milhões de euros ao Fundo de Resolução. No ano passado, para fazer face a perdas de 2017, este banco já tinha recebido uma injeção de capital de 792 milhões de euros do Fundo de Resolução.
Em 06 de março, a propósito do período em que incidirá a auditoria anunciada pelo Governo ao Novo Banco, o primeiro-ministro declarou que será sobre a fase anterior à resolução do Banco Espírito Santo (BES), salientando que a fase posterior foi "conduzida diretamente" pelo Banco de Portugal.
Na altura, questionado sobre a posição do Presidente da República a favor de uma auditoria ao período "desde que foi determinada a resolução", António Costa disse perceber a posição de Marcelo Rebelo de Sousa, mas sugeriu que "porventura uma comissão parlamentar de inquérito seria mais adequada para fazer a apreciação da atuação do Banco de Portugal neste processo".
Três dias antes, o Presidente da República tinha-se manifestado de acordo com o pedido de auditoria anunciado pelo Governo às contas do Novo Banco, defendendo que "os portugueses têm o direito de saber o que se passou desde que foi determinada a resolução, já lá vão muitos anos, com sucessivas gestões, e saber concretamente qual o destino do dinheiro dos contribuintes".
O Novo Banco foi criado em 2014 para ficar com parte dos ativos do BES e é desde outubro de 2017 detido em 75% pelo fundo norte-americano Lone Star, sendo os restantes 25% propriedade do Fundo de Resolução gerido pelo Banco de Portugal.
A Lone Star não pagou qualquer preço, tendo acordado injetar 1.000 milhões de euros no Novo Banco, e negociou um mecanismo que prevê que, durante oito anos, o Fundo de Resolução injete até 3,89 mil milhões de euros no banco, por perdas que venha a registar num conjunto de ativos 'tóxicos' e alienações de operações não estratégicas, caso ponham em causa os rácios de capital da instituição.
Em 2018 o Novo Banco registou prejuízos de 1.412 milhões de euros.
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