Os resultados são “positivos” mas “não são extraordinários”, considera João César das Neves, economista e professor catedrático da Católica Lisbon School of Business & Economics, que assume que o Governo está agora mais perto de conquistar o objetivo fixado para 2016 (um crescimento de 1,2% no conjunto do ano).
O professor catedrático do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) João Duque, que disse não estar surpreso com as estimativas do PIB para o terceiro trimestre, coloca no turismo o ónus deste crescimento, e alerta que é preciso manter estes níveis para que sejam cumpridos os objetivos para 2016. “Gosto de ver bons números. Agora, preferia que fosse à custa da procura interna, do investimento e das exportações. Aí é que está o crescimento”, diz.
“Segundo parece, isto [a economia] está a ser puxado essencialmente pela procura externa e pelo consumo. Ora bem, são dois elementos que não são muito seguros. O problema está, sobretudo, na principal doença da economia portuguesa nos últimos tempos que tem sido a ausência de investimento”, refere João César das Neves. “Não é possível manter um crescimento sólido sem investimento”, salienta, acrescentando que o estímulo à produção tem estado ausente das políticas do Governo.
João Duque, por seu turno, destaca o comportamento “péssimo” do investimento neste terceiro trimestre e questiona se o turismo continuará a apresentar uma dinâmica que sustente o crescimento da economia. Portugal é visto como um “resort”, diz o economista, alertando que “ o turismo é de modas, e às vezes estas modas passam”. João Duque vê com preocupação a proposta de orçamento para 2017 porque considera que “o problema fundamental, que é o investimento, não é atacado”. Além disso, diz, Portugal não produz o suficiente para fazer face aos seus compromissos. Perante este cenário, João Duque critica uma governação feita a prazo. “O que interessa é ganhar eleições”, lamenta.
Silva Peneda, ex presidente do Conselho Económico e Social, concorda que a “médio prazo o investimento é uma variável essencial”, mas, para já, destaca os números “positivos” avançados pelo INE para o terceiro trimestre. “A minha conclusão da análise do PIB é positiva, o que não significa que não existam preocupações relativamente ao futuro, e o investimento é uma delas”, diz. "Para já não são más notícias. Não podemos dizer que estão todos os problemas resolvidos mas para quem estava a crescer [em termos homólogos] 0,9% e dá um salto para 1,6%, é uma boa notícia”, conclui, salientando que estes números do INE são provisórios e que, portanto, é preciso aguardar por dados mais concretos para fazer uma análise detalhada.
Segundo a nota divulgada esta terça-feira pelo INE, o crescimento mais intenso do PIB em termos homólogos “refletiu principalmente o aumento do contributo da procura externa líquida”, tendo-se verificado “uma aceleração mais expressiva das Exportações de Bens”. Além disso, é de referir “o contributo da procura interna para a variação homóloga do PIB”, fruto da “aceleração do consumo privado”.
No que concerne à evolução em cadeia, “o contributo da procura externa líquida foi positivo, refletindo o forte aumento das Exportações de Bens e Serviços, enquanto a procura interna registou um contributo negativo”.
As estimativas de crescimento da economia no terceiro trimestre superaram as previsões de vários analistas, que estimavam, em média, aumentos de 0,3% em cadeia e 1,1% em termos homólogos, atribuindo estes resultados sobretudo a uma quebra na procura interna.
O Governo prevê que a economia portuguesa cresça 1,2% no conjunto de 2016.
Depois de sabidas as estimativas do Instituto Nacional de Estatística sobre a evolução da economia portuguesa no terceiro trimestre, João Galamba, porta-voz do PS, congratulou-se com os “dados extremamente positivos” e acrescentou ainda que o “diabo” da economia - em referência a declarações presidente do PSD, Pedro Passos Coelho - só existe para a oposição.
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