Casamentos há muitos e formas de fazer a cerimónia também, de acordo com o gosto de cada casal. Mas, de um modo geral, ninguém quer casar de máscara, sem pista de dança, a desinfetar as mãos entre cada canapé, e com a preocupação de ter de calcular a distância a que está de cada convidado. É certo que há alguns cuidados que são necessários, mas, com o plano de vacinação em marcha, há mais margem de manobra para planear o dia de sonho e 2021 promete ser mais risonho do que 2020. Afinal, houve muitos casamentos adiados no ano passado e há quem não esteja disposto a esperar mais para oficializar o matrimónio.

Nos Estados Unidos, esta tendência já é bastante notória e espera-se um boom de cerimónias para compensar todos os “I do” que ficaram por dizer em 2020. Os números não deixam margem para dúvidas. Segundo um estudo da Wedding Report, uma publicação americana, no último ano (2020), realizaram-se apenas 1 milhão e 27 mil casamentos, enquanto este ano (2021) o número deve atingir o 1 milhão e 93 mil casamentos. No entanto, este valor deve atingir um pico em 2022 (com 2 milhões e 47 mil cerimónias) e só depois de 2023 deve voltar aos níveis pré-pandémicos.

Tal como nos anos 80
Os dados da National Center of Health Statistics sugerem que, desde os anos 80, o número de casamentos tem vindo sempre a diminuir. Entre 2017 e 2018, houve uma queda especialmente acentuada, onde a diminuição desta taxa em 6%, significou o valor mais baixo de sempre, num universo com registos desde o ano de 1900.

No entanto, a análise do Wedding Report aponta para uma semelhança entre os casamentos do ano de 2022 e os casamentos dos anos 80. Não, não se refere a cabelos ripados, aos vestidos com mangas que parecem cogumelos ou às cassetes VHS de má qualidade. Em vez disso, as tais 2 milhões de cerimónias do próximo ano vão igualar o número de cerimónias dos anos 80, que rondou sempre estes valores.

Há mesmo quem tenha esperado por uma pandemia para dar o nó (ou não fosse o confinamento uma ótima ocasião para perceber se a relação tem futuro ou não). Num artigo do The New York Times, especialistas em economia afirmam mesmo que “isto não é um boom de casamentos, é um boom de cerimónias de casamentos”. Os mesmos académicos referem que, sem a COVID-19, provavelmente haveria menos eventos desta natureza.

Quanto custa fazer a festa?
Nos EUA, os casamentos são uma indústria de 70 mil milhões de dólares e, apesar de o número aumentar no próximo ano, por agora ainda não se atingiram níveis pré-pandémicos. Contudo, este crescimento tem um preço e o dinheiro gasto em cada cerimónia deverá aumentar gradualmente.

  • A maioria das empresas que organizam este tipo de eventos tem cerca 10% de marcações a menos do que em 2019 e muitas afirmam que não estão a lucrar com novas cerimónias, mas sim a realizar as que ficaram adiadas.

  • Alguns casais ainda demonstram algum nervosismo no que toca a fazer uma festa desta dimensão em contexto (ainda) pandémico. Por isso, 15% afirma estar a reduzir o número de convidados. Se se reduzem os convidados reduz-se, claro, o orçamento.

  • Ainda assim, até 2023, não só devem aumentar as cerimónias, mas também o custo médio das mesmas (de relembrar que muitos casais pouparam durante o confinamento devido à falta de atividades fora de casa).

  • Posto isto, em 2021, o gasto médio deve rondar os 22,5 mil dólares. Em 2022, casar vai custar em média 24,3 mil dólares. E em 2023, convidar amigos e família para celebrar vai andar à volta dos 24,9 mil dólares.

  • Os mais pacientes, cerca de 20% daqueles que planeavam casar em 2021, preferiram adiar o seu casamento para o próximo ano, com tudo aquilo a que têm direito.

Por cá…
Em Portugal, os valores não nos dão respostas tão óbvias. Mas já é notório o reerguer da indústria da organização de casamentos à medida que mais e mais pessoas arregaçam as mangas para tomar a vacina.

De acordo com o Instituto Nacional de Estatística:

  • Em 2019 (período pré-pandémico), houve mais de 33 mil casamentos. Em 2020 (ano de pandemia com mais restrições), o número não chegou aos 19 mil.

  • No primeiro trimestre de 2020 (antes de a pandemia ser uma realidade), realizaram-se cerca de 4 mil cerimónias. Já no primeiro trimestre deste ano (grande parte passado em confinamento), realizaram-se cerca de 1.500 cerimónias.

  • No segundo trimestre de 2020 (um dos piores em termos de pandemia), houve perto de 3 mil celebrações. No mesmo período, este ano, pouco mais de 7 mil casais trocaram votos.

Conclusão: o número total de casamentos deste ano (8.616), contados até ao fim do primeiro semestre, não equivalem a metade dos casamentos realizados no último ano. Mas já ultrapassam os 6.133 casamentos realizados no primeiro semestre de 2020. Assim, e tendo em conta que os dados se referem a cerimónias realizadas até junho, a aposta está nos próximos meses. Tradicionalmente, o verão é a altura escolhida pela maioria dos portugueses para ir ao altar. E, tal como nos indicam os números referentes aos anos pré-pandémicos, julho, agosto e setembro costumam ser os meses com maior procura.

Do lado das empresas que organizam estes eventos, falta arranjar espaço na agenda para encaixar os 17 mil casamentos que foram adiados o ano passado. Mas fica a esperança de que, com a progressiva vacinação e com o levantamento de muitas das restrições COVID-19, o negócio possa regressar “ao normal”.

  • Curiosidade: segundo o Pordata, o ano a seguir à queda do Estado Novo foi aquele em que se realizaram mais casamentos, desde os anos 60 até à atualidade. Em 1975, mais de 103 mil casais selaram votos.