Sublinhando a “forma confiante e competente” como Centeno tem dirigido os trabalhos do fórum informal de ministros das Finanças da zona euro na resposta de emergência à crise provocada pela pandemia, o vice-presidente executivo com a pasta de “Uma Economia ao Serviço das Pessoas”, em entrevista à Lusa, escusa-se, no entanto, a pronunciar-se sobre uma eventual recondução do ministro português como presidente do Eurogrupo, por motivos “institucionais”.
“Centeno está a fazer um trabalho realmente bom na resposta à crise em Portugal, mas também na resposta à crise na Europa, tendo facilitado um acordo sobre um pacote substancial de resposta à crise”, apontou, referindo-se ao compromisso alcançado em 09 de abril no Eurogrupo em torno de três “redes de segurança” para apoiar Estados, empresas e trabalhadores, num montante global de 540 mil milhões de euros.
Estimando que o presidente do Eurogrupo “está de facto a fazer um bom trabalho, a organizar esta resposta à crise de uma forma confiante e competente”, Dombrovskis sublinhou que Mário Centeno irá agora “trabalhar também na parte da recuperação”.
Expressando “apreciação também a nível pessoal”, dado ambos manterem “uma muito boa cooperação já há muitos anos”, Dombrovskis escusa-se no entanto a comentar uma eventual recandidatura do ministro das Finanças português a um segundo mandato – o atual chega ao fim dentro de dois meses e meio –, por questões institucionais.
“Quanto a essa questão, terei de ser institucional, porque a Comissão Europeia não faz parte do processo de seleção ou eleição do presidente do Eurogrupo. É algo que cabe aos membros da zona euro e, desse ponto de vista, a Comissão Europeia não tem papel direto a desempenhar neste processo”, apontou.
Eleito em 04 dezembro de 2017 para suceder ao holandês Jeroen Dijsselbloem na presidência do Eurogrupo, Mário Centeno iniciou o seu mandato de dois anos e meio em 12 de janeiro de 2018, não tendo ainda revelado se tenciona candidatar-se a um segundo mandato.
Portugal entra na recessão gerada pela covid-19 com uma “economia mais resiliente”
“É possível dizer que Portugal entra nesta crise com uma economia mais resiliente do que antes”, disse Dombrovskis.
Destacando as reformas estruturais feitas após a crise de 2009, na qual Portugal foi um dos países europeus mais afetados, o responsável notou que tais medidas “ajudaram a aumentar a resiliência da economia portuguesa e a sua competitividade”.
“Em termos das políticas orçamentais, Portugal era um dos países mais endividados e foi capaz de reduzir substancialmente a sua dívida nos anos de crescimento económico o que, infelizmente, não aconteceu em todos os países endividados”, afirmou Valdis Dombrovskis.
Ainda assim, de acordo com o vice-presidente do executivo comunitário, Portugal “não escapa ao restante panorama” de recessão os países da zona euro e da UE, pelo que Bruxelas estima uma “situação complicada” este ano no país devido aos efeitos da pandemia de covid-19.
Para evitar consequências graves, “encorajamos Portugal a fazer uso dos instrumentos europeus que estamos disponibilizar” a nível europeu, destacou Valdis Dombrovskis à Lusa, aludindo ao programa comunitário «Sure», que visa salvaguardar postos de trabalho através de esquemas de desemprego temporário, às linhas de crédito do Mecanismo Europeu de Estabilidade, o fundo de resgate permanente da zona euro, e ainda às operações de emergência para garantir liquidez aplicadas pelo Banco Central Europeu (BCE).
O vice-presidente da Comissão Europeia exortou ainda o Governo português a “utilizar a flexibilidade dos fundos estruturais”, medida introduzida por Bruxelas para permitir a reafetação destas verbas comunitárias à resposta à pandemia.
“De acordo com a informação de que disponho, Portugal poderá realocar entre dois a três mil milhões de euros de verbas da coesão para responder à crise, para aplicar na resposta sanitária, mas também económica, ao nível das pequenas e médias empresas e dos esquemas de desemprego temporários e outras medidas possíveis”, elencou Valdis Dombrovskis.
Em perspetivas económicas divulgadas em meados de abril, o Fundo Monetário Internacional (FMI) antecipou uma recessão de 8,0% da economia portuguesa e uma taxa de desemprego de 13,9% em 2020, devido à pandemia de covid-19.
Além desta queda acentuada do Produto Interno Bruto (PIB) português e do aumento do desemprego, o FMI estimou também para este ano uma deflação de 0,2% e um saldo da conta corrente positivo em 0,3% do PIB.
Para 2021 o cenário inverte-se, com a instituição liderada pela búlgara Kristalina Georgieva a apontar para uma recuperação de 5,0% do PIB, uma taxa de desemprego de 8,7%, uma inflação de 1,4% e um saldo da conta corrente a voltar para o negativo, nos 0,4% do PIB.
Em 2019, o crescimento do PIB foi de 2,2% e a taxa de desemprego foi de 6,5%.
Estas foram as primeiras previsões para Portugal de uma instituição internacional no âmbito da pandemia de covid-19, e seguem-se às do Banco de Portugal (BdP), que, no final de março, estimou uma queda do PIB nacional de 3,7% num cenário base e de 5,7% num adverso.
No que toca ao desemprego, os economistas do banco central projetaram uma taxa de desemprego de 10,1% em 2020, no cenário base, e de 11,7% no adverso.
Para 2021, o BdP apontava para um crescimento de 0,7% do PIB no cenário base e 1,4% no adverso, e quanto ao desemprego o banco central estima uma taxa de 9,5% no cenário base e 10,7% no adverso.
O FMI projetou para Portugal uma dívida pública de 135% do PIB e um défice de 7,1% em 2020 devido à pandemia.
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