Numa ronda hoje por alguns dos bairros da capital angolana, a Lusa encontrou ‘kinguilas’, como são conhecidas as mulheres que se dedicam à compra e venda de divisas na rua – negócio ilegal e que a polícia tenta combater – a transacionarem um dólar entre os 440 e os 445 kwanzas (2,20 euros), mantendo-se o euro acima dos 510 kwanzas.
O kwanza angolano fechou na terça-feira com uma depreciação total de 16% face ao euro, passando a moeda europeia a ser a referência para o mercado de câmbios de Angola, após um leilão de divisas realizado pelo Banco Nacional de Angola (BNA), o primeiro no âmbito do novo regime flutuante cambial em vigor.
Esse leilão, que permitiu a colocação de 83,6 milhões de euros em divisas, “montante integralmente absorvido” pelos bancos comerciais que participaram, permitiu, segundo o BNA, apurar uma taxa média ponderada de venda de 221,26 kwanzas por cada euro, depreciando praticamente 16%, segundo cálculos feitos pela Lusa, face aos anteriores 186 kwanzas.
Já com os efeitos da indexação do kwanza angolano ao euro, a cotação oficial apurada pelo BNA para comprar um dólar norte-americano ficou-se nos 185,5 kwanzas, o que por sua vez representa uma depreciação de mais de 10% para a cotação oficial de segunda-feira, de acordo com o cálculo feito pela Lusa.
Com esta nova cotação, e enquanto o BNA não realiza novo leilão de divisas, o mercado de rua já incorpora a desvalorização do kwanza nas transações que se realizavam hoje na Mutamba, Maculusso e São Paulo.
O mesmo acontece no bairro dos Mártires de Kifangondo, zona do centro de Luanda apelidada de “Wall Street dos Mártires”, dada a quantidade de dólares transacionados, normalmente à vista de todos, diariamente, apesar dos relatos de operações policiais realizadas desde dezembro para combater este tipo de negócio.
A cotação do mercado informal da capital angolana, próximo dos 450 kwanzas por cada dólar, compara com a da primeira semana de 2017, quando a moeda norte-americana atingiu o máximo de vários meses, nos 500 kwanzas (2,50 euros), descendo, já após as eleições gerais de agosto, para os 370 kwanzas (1,85 euros).
A depreciação do kwanza na terça-feira foi também a primeira desvalorização real da moeda angolana em quase dois anos, em resultado do novo regime flutuante cambial em vigor, por ação do mercado, aplicado quando as Reservas Internacionais Líquidas do país estão em mínimos históricos, de menos de 12.000 milhões de euros, cenário influenciado pela crise da cotação do petróleo.
Desde o primeiro trimestre de 2016 que a taxa de câmbio oficial definida pelo BNA estava fixa nos 166 kwanzas por cada dólar norte-americano e nos 186 kwanzas por cada euro.
Contudo, face à falta de divisas aos balcões dos bancos comerciais, o mercado de rua, que para muitos constitui a única alternativa para aceder a moeda estrangeira, desde novembro que antecipava uma desvalorização da moeda angolana.
A Lusa noticiou a 04 de janeiro que os preços indicativos propostos pelos bancos comerciais angolanos vão passar a definir o novo regime flutuante cambial no país, conforme informação do banco central, que já definiu o intervalo de cotação deste modelo.
Em reunião extraordinária do Comité de Política Monetária (CPM) do BNA, realizada no mesmo dia, em Luanda, aquele órgão definiu “os limites mínimo e máximo da banda cambial” deste novo modelo, refere o comunicado final da sessão, a que a Lusa teve acesso, mas sem concretizar os valores.
No comunicado libertado no final da reunião do CPM, é explicado que o regime cambial que vigorou até à presente data consistia numa taxa de câmbio “administrada”, determinada pelo BNA, “independentemente da relação entre a procura e a oferta”.
“Doravante, o Banco Nacional de Angola adota um regime cambial caracterizado pela flutuação da taxa de câmbio dentro de um intervalo, com um limite máximo e um limite mínimo. Esse intervalo é denominado de banda cambial”, acrescenta.
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