“Para mim foi uma oportunidade adiada que espero que seja retomada”, reforçou Joaquim Carreira à margem da apresentação do anuário de 2023 que decorreu hoje na Câmara Municipal do Porto e que chega, pelo terceiro ano consecutivo, às livrarias com o objetivo de resumir o ano e divulgar uma parte do trabalho dos jornalistas da Lusa.
Assumindo que a não concretização do negócio não era o desfecho que esperava, o administrador entendeu, contudo, que a discussão em torno do mesmo levou a que se falasse muito mais da agência e se relembrasse a sua importância no panorama do sistema da comunicação social.
Numa altura em que as eleições legislativas estão próximas e a comunicação social atravessa um período conturbado, ampliado pela crise no Global Media Group (GMG) detentor de títulos como o JN, O Jogo e TSF, Joaquim Carreira salientou ser o momento de repensar o estado deste setor onde a Lusa tem “claramente um papel vital”.
Na opinião do presidente do Conselho de Administração têm de ser feitas perguntas aos partidos políticos sobre a comunicação social, sobretudo sobre o papel da Lusa que presta um serviço público “isento, rigoroso, factual e de confiança”.
É muito importante que os partidos voltem a falar e a debater a questão da comunicação social, depois do principal arco de governação o ter feito quando o negócio da compra da agência estava a ser delineado, salientou.
Joaquim Carreira explicou que o negócio implicava que o serviço da Lusa passasse a ser gratuito, o que seria importante para os órgãos de comunicação social mais pequenos, dado que, grande parte deles não têm poder de compra para subscrever o serviço.
Isto seria algo muito importante para o futuro, nomeadamente no combate à desinformação e às assimetrias regionais e tecnológicas porque se não existir uma agência de notícias pública com serviço público isento vão-se criar bolhas mediáticas, vincou.
O Estado financia a Lusa pelo serviço público prestado (em 2022 cerca de 16 milhões de euros com IVA incluído) e os clientes da Lusa pagam um valor mensal por ter acesso às notícias (as receitas próprias ficaram próximas de quatro milhões de euros em 2022 segundo os últimos dados divulgados).
Em final de novembro, o Governo anunciou que falhou o processo de compra pelo Estado de 45,7% da agência Lusa, pertencentes à Global Media e à Páginas Civilizadas, por “falta de um consenso político alargado”. Se o negócio tivesse ido avante, o Estado ficaria com a quase totalidade da Lusa.
Em janeiro, o ministro da Cultura disse que o Estado propôs pagar cerca de 2,5 milhões de euros, valor ao qual era preciso descontar a dívida, pelas participações da Global Media e das Páginas Civilizadas na Lusa, e que a intenção era aumentar a indemnização compensatória da agência Lusa já em 2024 e, dessa forma, tornar o seu serviço gratuito para toda a comunicação social.
Para Adão e Silva, a gratuitidade da Lusa permitiria a “pelo menos mais 600 órgãos de comunicação social” aceder ao serviço da agência e manifestou-se confiante que o próximo Governo avance com a medida.
O Estado detém 50,15% da Lusa, com o grupo Global Media a ser detentor de 23,36% e a Páginas Civilizadas 22,35%.
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