A Santa Sé publicou hoje as suas contas para 2020 e – pela primeira vez e na véspera da primeira audiência, no dia 27 de julho, do julgamento no Vaticano sobre o caso da venda de um imóvel em Londres – o orçamento da Administração do Património da Sé Apostólica (APSA).
O prefeito da Secretaria de Economia do Vaticano, Juan Antonio Guerrero, disse, em entrevista ao portal noticioso Vatican News, que este ano o orçamento da APSA é divulgado pela primeira vez, mas que isso não significa que a Santa Sé “não tivesse feito as suas próprias contas, no passado, e que não as tenha enviado para aprovação”.
“Os órgãos de controlo controlam. Torná-las públicas é, sem dúvida, um avanço no sentido da transparência”, explicou Juan Guerrero.
De acordo com o orçamento, a Santa Sé teve receitas de 248 milhões de euros e despesas de 315 milhões de euros.
O património líquido da Santa Sé é de cerca de 1.379 milhões de euros e, em termos de fluxo de caixa, os escritórios e nunciaturas romanas representam 36% do orçamento total, enquanto 14% diz respeito ao Estado da Cidade do Vaticano, 18% ao IOR (banco do Vaticano), 24% a outras fundações e fundos, 05% ao Óbolo de São Pedro e 03% aos demais fundos relativos à Secretaria de Estado.
“As fontes de receitas já são conhecidas: 58% (68% em 2019) foram geradas internamente (receitas, investimentos, visitas e serviços prestados); 23% (18% em 2019) doações de fontes externas (dioceses ou outras instituições) e 19% (14% em 2019) vêm de entidades relacionadas (como o IOR ou o Governo)”, pormenorizou Guerrero.
A Santa Sé informou que o seu défice ordinário foi 14,4 milhões de euros inferior em 2020 face a 2019, já que no ano passado foi de 64,8 milhões de euros contra 79,2 milhões de euros em 2019.
A rentabilidade dos investimentos foi reduzida em 51,8 milhões de euros, em 2020, face ao ano anterior e o resultado extraordinário também foi inferior em 17,8 milhões de euros.
As contas foram reveladas no momento em que o Vaticano vai julgar dez pessoas por crimes ligados a investimentos imobiliários da Secretaria de Estado em Londres, incluindo o cardeal Angelo Becciu, que apresentou a renúncia ao papa no ano passado do seu cargo de prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, depois de ser envolvido numa investigação sobre a venda de um prédio em Londres e sobre a gestão do St. Peter’s Mite, o fundo que arrecada doações dos fiéis para as obras de caridade do pontífice.
O cardeal Becciu e as outras nove pessoas – incluindo funcionários leigos e religiosos do Vaticano e figuras das finanças internacionais – além de quatro empresas, terão de comparecer no próximo dia 27 de julho na primeira audiência do julgamento sobre crimes financeiros como peculato, lavagem de dinheiro, fraude, extorsão e abuso de poder.
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