O UNI+i é dirigido a empresas de diferentes setores estratégicos, desde agroalimentar, ambiente, ciências da vida e da saúde ou tecnológico, que querem potenciar os negócios e atravessar fronteiras à conquista de novos mercados.

“É um projeto entre Portugal e Espanha, mas na verdade abre-nos portas para o resto do mundo”, afirmou à agência Lusa Daniel Ribeiro, de 30 anos e um dos fundadores da cooperativa agrícola Rupestris.

Instalada no campus da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), na cidade de Vila Real e a cerca de 100 quilómetros do Porto, a Rupestris foi fundada para proporcionar visitas guiadas ao jardim botânico desta academia que se estende por 130 hectares.

A paixão pelas plantas foi evoluindo e a cooperativa criou um viveiro onde atualmente possui perto de 60 espécies diferentes e 25 mil plantas para comercialização direta, para viveiros, lojas ou reflorestações. “Aqui é como ter um jardim zoológico de plantas”, salientou Daniel Ribeiro.

A Rupestris aderiu ao UNI+i e esta foi, segundo o empreendedor, “a chave do puzzle”: ajudou a melhorar e a organizar a ideia de negócio. Através do projeto, a cooperativa conta com o apoio de três mentores, docentes na UTAD.

“Vão-nos passando o conhecimento acerca dos mapas de trabalho que nós temos, mas também de como deve ser a nossa abordagem com o mercado”, salientou, explicando que o UNI+i trouxe “mais confiança”.

Com a abertura do túnel rodoviário do Marão (5,6 quilómetros) quebrou-se a barreira psicológica da serra, Vila Real aproximou-se do Porto e ganhou condições mais atrativas para o investimento. A ligação do Porto a Castela e Leão ficou mais rápida, através do nordeste transmontano.

O UNI+i surgiu para impulsionar os negócios nestes territórios.

Coordenado pela UTAD, o projeto junta o Regia Douro Park — Parque de Ciência e Tecnologia de Vila Real, a Universidade do Porto, a Universidade de Salamanca, o Parque Científico de Salamanca e a Associação Ibérica de Municípios Ribeirinhos do Douro.

Arrancou em abril de 2017 e vai estender-se até dezembro de 2019, com um investimento que ronda um milhão de euros, entre fundos do programa INTERREG – POCTEP (Programa de Cooperação Transfronteiriça Espanha-Portugal) e a comparticipação dos parceiros portugueses e espanhóis.

Atualmente está a apoiar 30 empresas de recente criação e 32 empreendedores dos dois lados da fronteira, mais do que o inicialmente previsto.

“Temos tido uma adesão muito interessante das empresas e dos empreendedores […]. Superou as expectativas”, frisou Helena Moreira, professora da UTAD, que coordena o projeto juntamente com Ana Alencoão.

Helena Moreira acredita que o UNI+i está a ajudar “a potenciar” os negócios em Portugal e Espanha, destacando ainda a criação de novos negócios por parte de alguns empreendedores.

Para “outros, mesmo que não construam a breve trecho a sua empresa, a formação que o projeto lhes proporcionou foi uma mais-valia para poderem vir a construí-la no futuro”, afirmou.

O programa envolve acompanhamento às empresas, formações, visitas de estudo, ‘coaching’ tecnológico, eventos de ‘networking’, seminários de diferentes temáticas como técnicas de comunicações, questões legais e fiscais, segurança social, financiamento comunitário, crescimento no mercado internacional ou marketing digital.

Para Nuno Augusto, vereador da Câmara de Vila Real e responsável pelo Regia Douro Park, o objetivo do UNI+i passa também pela “criação de uma rede para as empresas e para o empreendedorismo” entre as duas regiões de Portugal e Espanha.

“Criar um intercâmbio de conhecimento e um relacionamento que possa ajudar à instalação de novas empresas e fomentar o desenvolvimento das empresas que já estão instaladas”, sublinhou.

Nesta rede de apoio há partilha de meios por parte das universidades, das empresas já consolidadas e dos parques de ciência e tecnologia.

Nuno Augusto acredita que o projeto está a ajudar a fortalecer o tecido empresarial e na internacionalização das empresas.

O Montel é um vinho biológico produzido com uvas colhidas em Castedo do Douro, concelho de Alijó. A empresa está instalada no Regia Douro Park e integra também o programa transfronteiriço.

A proprietária, Elisa Pimentel, 50 anos, destacou a aprendizagem que tem tido a nível da legislação, informática, marketing ou rotulagem.

“Quanto aos aspetos legais, as coisas como funcionam aqui não são exatamente as mesmas como lá fora […]. O conhecimento da legislação é mais fácil quando temos a possibilidade de alguém nos dar a informação sem termos de ir atrás dos decretos-lei e ver qual o último artigo que saiu. Com eles temos a papinha toda feita e isso é impecável”, salientou.

Elisa Pimentel frisou que o UNI+i tem ajudado a “colocar os produtos lá fora” e, consequentemente, na internacionalização da empresa.

Rui Fonseca, de 49 anos e responsável pela empresa Objetivo Verde, disse que o projeto ajudou a definir o plano de negócios: “Ajuda a identificar riscos, a comercializar e a comunicar o projeto, ver o potencial, prós e contras, onde devemos apostar e como devemos apostar”.

A Objetivo Verde dedica-se às energias renováveis, fazendo desde o levantamento do potencial energético até à instalação dos equipamentos de energia solar, eólica ou biomassa.

Na empresa trabalham seis pessoas, mas o objetivo é, segundo Rui Fonseca, crescer para os 12 postos de trabalho e atravessar cada vez a fronteira para Espanha ou outros países, nomeadamente africanos, como Moçambique ou a Guiné Conacri.

A Bleam é uma agência de marketing digital e trabalha de Vila Real para toda a região Norte.

“Somos uma empresa jovem, inexperiente, temos vontade de trabalhar, mas há muitas coisas que não sabemos e temos de ir absorvendo o conhecimento”, afirmou Fábio Sigre, de 27 anos.

O responsável disse que a Bleam, através do UN+i, tem beneficiado com a partilha de outras experiências, outras áreas de negócio e outros modelos: “Tudo isso faz com que também nós consigamos enriquecer a nossa forma de trabalhar e isso tem sido a nossa principal vantagem”.

Uma partilha de experiências, realçou, também com os parceiros espanhóis do projeto, o que permite “perceber o que se faz lá fora” e de que forma é “possível melhorar o negócio” e fazer a “empresa crescer”.

“O UNI+i foi muito enriquecedor para nós de uma maneira geral”, frisou Fábio Sigre.

Desde 2014, a UTAD viu aprovados 20 projetos no âmbito do programa INTERREG, num valor que ascende aos 3,5 milhões de euros e envolve a cooperação 150 parceiros. Onze destes projetos estão incluídos no POCTEP.

“Os programas de cooperação transfronteiriça têm um enorme interesse para aproximar as regiões”, afirmou à Lusa o reitor da academia transmontana, António Fontainhas Fernandes, destacando a visibilidade dada a estes territórios através do conhecimento e da inovação.

“O INTERREG tem um efeito positivo no desenvolvimento regional […]. Estes projetos muito têm contribuído para uma escala mais global”, concluiu.

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