O espaço é antigo, mas o conceito é completamente novo. O Palácio do Visconde – The Coffee Experience leva-nos numa viagem no tempo até ao século XIX e conta-nos a história da bebida que a maioria dos portugueses consome todos os dias: o café. Algures no centro de Lisboa, erguem-se os dois palacetes, em tempos degradados e hoje restaurados, que servem o propósito do projeto, a começar neste verão, de turismo de habitação diferente e de uma tentativa de preservar o património material dos edifícios.
A ideia surgiu pela mão de Rita Galante e Fábio Vasques, casal que, quando começou a desenhar a ideia, estava a trabalhar no Dubai. "Tinhamos muito este sonho de construir a nossa própria empresa", conta Rita. E, em 2015, assim foi. Do Médio Oriente, chegaram à capital portuguesa, e, depois de baterem de porta em porta, foi entre o Intendente e a Graça que encontraram os palácios que iriam dar direito a longos meses de obras de restauro.
Entre os dois edifícios, havia ainda um jardim e um espaço industrial dedicado a torrar e moer o café, a Fábrica da Negrita. Foi deste modo que, de uma boa ideia, surgiu outra boa ideia: "dedicar todo um quarteirão a uma experiência de café mais local", numa altura em que a fábrica já dava sinais de ter "uma produção e venda cada vez menor", devido à crescimento no mercado do café em capsula, explica a criadora do projeto.
O Palacete Maria da Fonte terá sido construído em 1883 por ordem do Visconde Francisco Anselmo da Silva, burguês com negócios ligados à indústria, que terá privado com o rei D. Carlos. Já o Palacete Maria Andrade e a ponte que o liga ao jardim terão sido ofertas do Visconde à sua irmã, em 1891. Desta história surge o nome Palácio do Visconde – The Coffee Experience, com 24 quartos e 7 salões de café, que hoje é o único dedicado à experiência da bebida em Lisboa.
De acordo com Rita Galante, "cada quarto está relacionado com uma personagem associada à história do café em Portugal". Assim, o hóspede torna-se um "convidado do Visconde, senhor dos palacetes, numa viagem no tempo à Lisboa burguesa do século XIX, onde se privilegia o ambiente familiar, e produção local e artesanal".
Rita Galante adianta ainda que a Fábrica da Negrita "é a primeira e a única torrefação a laborar no centro de Lisboa", fator que tornou oportuno fazer das visitas guiadas mais um dos motivos para escolher o Palácio do Visconde. Esta é uma experiência onde é possível "viver as verdadeiras tradições do café", desde a produção em fábrica até à prova "nos salões nobres com tetos barrocos de talha dourada". Este espaço terá ainda uma loja de produtos a granel moídos na fábrica, sejam eles café, ou outros alimentos e especiarias como a cevada ou a noz-moscada.
Desde que o projeto começou a ser pensado que a ideia sempre foi preservar todos os elementos dos palácios, tentando ser fiel ao ambiente do século XIX. "Apesar de ser mais caro, mais moroso e mais difícil, nós não quisemos apenas manter a fachada", esclarece Rita. As burocracias e os imprevistos inerentes a fazer uma intervenção desta profundidade e a COVID-19 atrasaram a abertura ao público, mas a obra continuou, mesmo durante períodos mais críticos da pandemia em Portugal.
Em julho deste ano, está pronto o quarteirão dedicado ao café. A criadora deste projeto afirma ter "plena consciência de que em Lisboa será bastante difícil" avançar com negócios de hotelaria, por se tratar de uma grande cidade e que depende muito do turismo estrangeiro. Contudo, lembra que o Palácio do Visconde é um local "com poucos quartos, jardim, esplanada" e "reúne as melhores condições para quem quer fazer turismo em segurança". Rita Galante acredita ainda que "ideias inovadoras irão sempre encontrar espaço no mercado". Abram-se então as portas do Palácio.
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