Lai Ching-te, vice, nos últimos oito anos da popular presidente Tsai, que tem de cessar funções por atingir o limite de dois mandatos, recebeu 40% dos votos, percentagem que supera as previsões das últimas semanas e está eleito presidente. É, entre todos os candidatos, a escolha mais hostil ao poder de Pequim.
Fica a imagem de que nesta primeira eleição neste 2024 crucial por eleições com impacto global, a democracia levou a melhor sobre a autocracia. No confronto entre as superpotências, em Taiwan, os EUA levam a melhor sobre a China.
A China considera Taiwan uma província rebelde que pretende de volta à soberania de Pequim. Xi Jinping tem repetido que deseja que a reunificação aconteça de forma pacífica, mas não declara renunciar ao uso da força para conseguir essa ambição que o presidente chinês deseja concretizar ainda no atual mandato.
Os candidatos vencidos nesta eleição levaram para a campanha o discurso de vontade de aproximação à China. O vencedor limita-se a desejar harmonia, mas com absoluta salvaguarda da soberania sobre a ilha a que passa a presidir.
A ilha de Taiwan, com 23 milhões de habitantes, conseguiu na última década colocar-se como a 21ª economia mais pujante no mundo. É um território multicultural onde o mandarim clássico da China antiga é a língua oficial, mas há 16 dialetos cultivados por outros tantos grupos aborígenes. O inglês só é dominado pelas populações mais novas. Os telemóveis têm todos um permanentemente utilizado sistema de tradução com o mandarim como âncora.
O domínio, até 1945, do Japão imperial deixou marcas fortes na cultura de Taiwan. É um país com alto sentido cívico e de ordem, com muito eficiente rede de transportes não poluentes e com avançados sistemas de reciclagem.
A democratização de Taiwan cresceu a partir de 1992, e a ritmo galopante já neste século. Antes, vigorava a ditadura instalada em 1949 por Chiang Kai-chek, o chefe do Kuomintang que, derrotado na China continental pela outra ditadura, a da revolução de Mao Zedong, fugiu para Taiwan com 600 mil combatentes e três milhões de seguidores. Naquele tempo, Taiwan tinha apenas seis milhões de residentes, cerca de um quarto da população atual.
A estratégia política de foco do país nas tecnologias, com Taiwan no pódio mundial da produção de semicondutores, determinantes para a economia digital, catapultou o crescimento do país e, em simultâneo, da democracia.
Uma ironia do destino: o Kuomintang, partido que foi liderado pelo ditador Chiang Kai-chek, foi nestas eleições a força política mais favorável à aproximação a Pequim. O candidato do Kuomintang ronda os 33% dos votos.
Desde as primeiras eleições livres em Taiwan, em 1996, esta é a primeira vez que um partido, o Democrático Progressista, vence três eleições presidenciais consecutivas. Nos dois primeiros mandatos, com a presidente Tsai, agora com o eleito Lai Ching-te, aplaudido por Washington e a irritar Pequim.
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