Vão-me desculpar, mas não consigo continuar calado sobre este assunto e hoje tenho mesmo de escrever sobre isto: o sofrimento dos transfóbicos. É cada vez mais visível, mais frequente e, com certeza, cada vez maior. É inadmissível que numa sociedade que se diz civilizada, seja permitido que certas pessoas tenham o desplante de achar, e de o afirmar publicamente, que não se identificam com o corpo em que nasceram, sabendo do transtorno que causam a tanta gente que, por acaso, vive razoavelmente bem com o corpo que a natureza (ou Deus, se quiserem, podem escolher) lhes deu. O egoísmo não conhece limites, de facto.

As pessoas estão na sua vida e vivem-na já cheias de preocupações, tantas delas com o seu corpo. Ou é uma borbulha que apareceu no queixo, ou o cabelo que está num mau dia, o aumento de peso no confinamento, uma orelha que é ligeiramente mais pequena que a outra, uma monocelha farfalhuda e tantos outros problemas que desgastam as pessoas que se identificam em género com o sexo biológico com que nasceram. E como se isto não chegasse, depois lá vêm essas tais outras pessoas transgénero com as suas birras (desculpem-me, mas não vou ser politicamente correcto e deixar de dizer as verdades como elas são) a dizer que não se identificam com o corpo em que nasceram, que querem mudar e querem direitos iguais às pessoas normais. E noção, não? Estas tais pessoas transgénero sabem o que é acordar com uma borbulha no queixo logo no dia que finalmente se vai jantar com a crush, por exemplo? Imaginem a Maria que vai ter um date com o André, e que, além disto lhe acontecer, ainda passa nas redes sociais e tem de levar com a pieguice dessas pessoas que se dizem “aprisionadas” num corpo que não sentem como seu. Aprisionadas? Vá lá, menos. Na minha terra isso chama-se serem mimados, mas enfim.

Eu até percebo que possa ser chato ser transgénero porque são altamente discriminados social e economicamente, porque são insultados, violentados e assassinados, porque por causa disto têm uma grande prevalência de doenças mentais como a depressão e a ansiedade, levando ao suicídio nos casos mais extremos. É capaz de ser meio incómodo, sim. Mas será que não podem fazer um esforço para gostar mais do corpo que lhes calhou para que não incomodem aquela pessoa transfóbica que está transtornadíssima porque não está a conseguir alisar o cabelo na perfeição naquele dia? Há muita falta de empatia das pessoas transgénero para com as transfóbicas. Parece que não percebem que estas têm sentimentos, que têm crenças sobre a binariedade do mundo e que ficam muito abaladas quando estas são contrariadas pelo capricho de liberdade dos outros.

A única coisa que alivia os transfóbicos nestas alturas é o humor refinado e hilariante com que que se expressam. Sabem? Aquelas piadas do (de?) género “Ai vale tudo? Então eu hoje identifico-me como helicóptero! Ahahah”. Perceberam? Genial. Valha-lhes o humor, por entre os comentários discriminatórios e de ódio, para os salvar da dor que é os outros quererem ser felizes.

Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:

- Até Que a Vida nos Separe: uma bela série portuguesa para verem na RTP e RTP Play.

- O Regresso da Ultradireita: excelente livro de Cas Mudde