Entre quatro actores vestidos dos pés à cabeça, com menos centímetros quadrados de pele à mostra que uma respeitada freira, estava a Jennifer Lawrence com um vestido sensualmente decotado e de perna pecadoramente de fora. Isto tudo com o frio londrino de Fevereiro.
Como é que a Jennifer Lawrence se prestou a isto? Como é que em 2018 lhe passa pela cabeça vestir o que bem lhe apetece sem ter em conta aquilo em que as pessoas vão pensar?
Felizmente, uma data de gente rapidamente se insurgiu, se indignou ou questionou, tal decisão. Foi dito que foi sexista ela estar de vestido, cheia de pele à mostra, enquanto os homens estavam mais vestidos que esquimós. Foi dito que aquilo era um símbolo óbvio do uso da figura sexual da mulher com fins promocionais para o filme. Foi dito, até por uma auto-proclamada feminista, que se fossem quatro mulheres todas encasacadas e um homem de calções, chinelos e manga cava era estranho. Curiosamente, era “estranho”, não era “sexista”. Antes de mais, antes de estranho, era feio. Calções e manga cava como quem vai a Carcavelos com um tupeerware com frango assado na mochila e uma geleira com minis na mão, não é bem a mesma coisa que um vestido de gala Versace que, para os entendidos em alta costura, é quase peça de museu.
O que pessoas como a Jennifer Lawrence têm de perceber é que o feminismo não é sobre a liberdade individual de cada mulher, é sobre o que as mulheres – e os homens – no geral acham que é o melhor para todas as mulheres.
A Jennifer achou que podia usar um vestido elegante, sensual e, ainda por cima, caro, só porque lhe apetecia, só porque enquanto mulher independente poderia vestir o que bem lhe apetecesse sem ter de perguntar nada a ninguém. Estava errada. Primeiro, era caro. Não devia usar coisas caras quanto há gente no mundo que nem dinheiro para um bago de arroz tem. Depois, é sensual. Claro que todos os homens – como seres intelectualmente muito limitados que todos são – nunca irão olhar para ela como uma talentosa actriz e mulher independente que é, mas apenas para um pedaço de carne à volta de uma provavelmente acolhedora vagina com um embrulho caro de etiqueta Versace.
Por isso, claro que não se pode vestir como quer. Tem que se vestir como a sociedade acha que se deve vestir, como a sociedade a julgar melhor, como os homens e as mulheres – toda a gente menos ela – acharem que é adequado.
Ao vestir-se assim, está claramente a pôr-se a jeito.
Eu também estava enganado. Mas agora percebi que o feminismo não é as mulheres fazerem o que quiserem, usarem o que quiserem, vestirem o que lhes apetecer. Feminismo é o que a convenção de feministas decide o que é bom para todas as mulheres enquanto género.
Pelo sim pelo não, até acho que devia ser criado um uniforme para mulheres, para andarem todas iguais a mostrar a força do seu género, e de preferência todas tapadas.
Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem insultar-me e cobrar-me uma jola:
- SOI: Maravilha de restaurante para quem gosta de comida asiática.
- Bocage, poesia erótica: comecei agora a ler uma compilação de poemas eróticos do Bocage e são incríveis. Já devia ter lido isto antes.
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