Não devia nada. Mas, com certeza, com este título já consegui irritar uns quantos e deixar outros tantos curiosos. Proibir a monogamia seria uma estupidez quase tão grande como a obsessão que há com ela. E o pior de tudo nem é quem a quer para si, é a quantidade destes que quase cospe aos pés de quem não a quer.
Antes de mais, devo esclarecer que não sou contra a monogamia, atenção. Parece-me ter muito pouco de natural, é certo, mas claro que pode ser uma escolha lindíssima. Amor daquele que vem nos filmes, a partilha de uma família, a construção de uma vida em conjunto. Além de que quando corre bem, tem também vantagens como a segurança, a estabilidade e um lugar de pertença. Agora, o ponto importante é ser, de facto, uma escolha que se faz todos os dias e não um milagre que acontece. E, se se percebesse mais isto, é provável que muito mais gente andasse menos iludida com aquilo do amor eterno e similares fantasias — e até andasse mais feliz gerindo melhor as expectativas.
Bom, mas também quem sou eu para falar nisto. Percebo muito pouco do assunto. Vivam a monogamia como quiserem. O meu ponto é que há outras formas de viver, e, ao contrário do que tanta gente se esforça por fazer parecer, são tão legítimas, correctas e bonitas, como quaisquer outros adjectivos que se possam aplicar à monogamia.
Corrijam-me se estiver errado, mas, por exemplo, não acham que é mais que tempo de parar de olhar de lado para uma pessoa que escolhe ser solteira, tendo ou não parceiros esporadicamente? Pode só estar sozinha. Porque é que “coitadinha que deve estar tão triste”? Porque é que “coitadinho que ninguém pega nele”? Para variar, o estigma é pior para as mulheres, porque ficam para tias e vão viver sozinhas só com gatos. Qual é exactamente o mal disto? Ser tio ou tia, é óptimo. Ter gatos (ou cães, vá) também. Logo, tem tudo para correr bem.
Depois, claro que temos também o julgamento do número de parceiros sexuais ou românticos. Novamente, sabemos que este julgamento é muito pior para as mulheres do que para os homens, e sabemos até o vernáculo usado para classificar ambos e eu escuso de os plasmar aqui para não sujar a crónica. Mas qual é exactamente o mal de ir para a cama com dezenas de pessoas ao longo da vida? O que é que aflige assim tanto aos que vêem de fora, que faz com que digam “que horror, já tens idade para assentar!”. O que é que quer dizer assentar? Porque é há de ser imaturo a escolha consciente de não ter um parceiro ou parceira fixa, com um compromisso romântico e sexual? Porque é que é não é sério ter imensos parceiros, ou porque é assim tão triste ter nenhum se for isso que a pessoa quer? Parece-me imaturo é continuar a insistir na cantilena de sermos todos monógamos e de quem não o aceita ser moralmente inferior. Galdérias e galdérios imorais. Pois que seja. Mas que sê-lo seja tão digno e bonito como viver uma relação só com uma pessoa.
E muito mais fica por dizer, porque ainda me falta falar de poliamor e das não monogamias consentidas, mas a crónica já vai longa. Deixo a semente sobre estes temas, e a eles mais tarde voltaremos. Fica só o mote: galdérias e galdérios, sejam-no orgulhosamente.
Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:
- (In)fidelidades: Dá-me ideia de já ter sugerido Esther Perel antes, mas vale sempre a pena.
- Contrapoints: provavelmente o meu canal preferido de YouTube. Passem lá.
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