Mais de um milhar de fãs do Maccabi voaram de Telavive a Amesterdão a puxar pela equipa que tinha jogo d futebol com o Ajax, para a Liga Europa. No estádio com nome dedicado à maior estrela holandesa de sempre no futebol mundial, Johan Cruijff, o Ajax goleou os israelitas por 5-0. Mas as provocações repetidas por fanáticos do Maccabi, antes e durante o jogo, levaram a violência que se expandiu para o centro de Amesterdão no pós-desafio.
Telavive tem duas equipas de futebol mais conhecidas, o Hapoel e o Macabi, Apesar de serem de um país no lado sul do Mediterrâneo, participam nas provas da UEFA. A ala ultra da claque do Maccabi, os Fanatics, tem forte marca política, alinha com as posições de Itamar Ben-Gvir, ministro do Interior e líder de um partido da extrema-direita determinante na coligação de governo de Netanyahu. rival local, Hapoel, tem adeptos com marca progressista, alinhada com a alma liberal da pujante cidade de Israel.
Os duelos em Telavive entre o Maccabi e o Hapoel obrigam sempre a medidas especiais de segurança e são frequentes as escaramuças em volta do estádio em que se defrontam estes rivais.
Agora, em Amesterdão, os Fanatics do Maccabi, antes do jogo, marcharam pelo centro da cidade a entoar cânticos contra os palestinianos e a comunidade árabe – que á vasta na cidade holandesa. Dois rapazes ousaram aparecer no passeio da rua por onde desfilavam os Fanatics e levantaram bandeiras da Palestina. Há vídeos que mostram um grupo de Fanatics a pontapear os dois rapazes. Também se vê uma bandeira da Palestina a ser queimada.
No estádio, o jogo começou com o minuto de silêncio decretado pela UEFA em homenagem às vítimas da calamidade em Valencia. Mas o silêncio foi interrompido elo ruído de assobios e insultos à Espanha – porque a posição oficial espanhola é de severa crítica à violência israelita em Gaza, na Cisjordânia e no Líbano.
Decorria o jogo em Amesterdão quando pelas redes sociais se multiplicaram apelos à mobilização para uma espera na rua aos fanáticos do Maccabi. Foi uma mobilização convocada sobretudo por jovens, alguns holandeses e muitos imigrantes de segunda ou terceira geração com nome e apelido árabe. Muitos já tinham mostrado hostilidade na véspera do desafio.
A polícia terá subavaliado a tensão que o confronto envolvia.
A noite de Amesterdão foi de “caça aos judeus do Maccabi”. Há vários relatos de atropelamento e fuga e outras agressões pela madrugada dentro. Alguns dos Fanatics que tinham entoado cânticos anti-palestinianos foram obrigados a gritar, enquanto eram filmados “Free Palestine” (Liberdade para a Palestina).
A UEFA repudia esta violência, o governo dos Países Baixos condena e declara indignação, e em Israel o presidente e o primeiro-ministro denunciaram pogrom anti-semita (a expressão russa “pogrom” designa a agressão e perseguição deliberada contra um grupo étnico, sobretudo judeus).
É facto que gente das claques do Maccabi desencadeou as provocações extra-futebol, ainda antes do jogo. Estas provocações foram recebidas pelas comunidades que identificam todo um povo – o de Israel – com as escolhas violentas de Netanyahu e do governo israelita, como uma agressão. E assim reagiram.
Obviamente, toda a violência merece vigorosa condenação e não é tolerável mesmo quando é uma violência que responde a outra violência.
A violência que Netanyahu impõe há 13 meses em resposta à barbárie praticada pelo Hamas está a inflamar, também na Europa, ódios e a despertar velhos fantasmas.
Está a abrir-se uma espiral em que, 80 anos depois do Holocausto, se perde o significado da expressão anti-semitismo e a responsabilidade que essa memória do tempo nazi-fascista acarreta.
A cruel tragédia em curso na Terra Santa está a semear ódio que também se espalha pela Europa (tal como nos EUA, aqui sobretudo em meios universitários) e que em alguns bebe o impulso anti-semita.
É assim que o desastre desta guerra está a alastrar. Trump, de regresso à Casa Branca, estará certamente pronto para encher os arsenais de Israel.
Não é tolerável que o conjunto da comunidade internacional continue impotente para tratar este conflito e parar esta guerra.
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