Não há nada como sair de Lisboa, essa bolha que se auto sustenta e considera melhor que o restante. Permite-nos entender como o país real se está nas tintas para tanta coisa, incluindo a política.

Um casal discutia a “chatice” da campanha e de ter de ir votar, mesmo com a possibilidade do voto antecipado. Estas duas pessoas acreditam que “ir votar não muda nada e estamos sempre a pagar a vida deles e outras que nem imaginamos”.

Não era uma questão ideológica ou de posição cívica, nada disso, era apenas o discurso da suspeição e da total descrença no sistema político.

Uma outra senhora, talvez com 60 anos, contribuiu para a conversa dizendo: “O pior é que nem vamos ter reforma quando chegar a nossa altura”. E acrescentou que tem dois filhos em casa com mais de trinta anos. Nisto, movimento típico do português clássico, começou a competição para ver quem se poderia queixar com maior legitimidade. Um concurso de queixas similar ao que acontece quando juntamos várias pessoas que padecem de doenças várias e parece inevitável que haja um vencedor no desconforto e na miséria.

No Porto, ao comer uma sopa numa tasca à qual os turistas ainda não vão, um grupo de jovens debatia-se com a possibilidade de ir estudar para fora. Um deles disse: “Aqui não temos hipótese”. Mais tarde, na mesma cidade, tive uma conversa com um casal que me garantia que “o pior está para vir”. Um sentido fatalista? Quando lhes falo das eleições esboçam um sorriso condescendente. “Ah, acredita que muda alguma coisa?”

Se este micro cenário de aferição de sensibilidades não afecta os partidos e a sua forma de atuação e comunicação, não sei o que fará. Parece que a política são “eles” e “eles” não querem saber dos outros que somos nós. Se abstenção voltar a bater recordes não me admiro.

A possibilidade de votar antecipadamente no dia 11 poderia fazer a diferença, mas nem isso parece motivar aqueles com quem tenho conversado.