O organismo que tutela o futebol no território compreendido entre a ilha das Flores e Vladivostok rejeitou o pedido da cidade de Munique de iluminar a Allianz Arena com as cores do arco-íris, no jogo que oporá a Alemanha à Hungria. A UEFA considera que o gesto constitui uma "mensagem que visa uma decisão tomada pelo parlamento húngaro" (uma lei que proíbe a divulgação de conteúdo sobre orientação sexual a menores de 18 anos) e decidiu contra o projeto do município alemão na qualidade de "organização política e religiosamente neutra".

Depois de ter aberto um inquérito (entretanto arquivado) à Federação Alemã porque o guarda-redes Manuel Neuer envergou, no jogo frente a Portugal, uma braçadeira de capitão com o mesmo espetro de cores, a UEFA confirma o seu desconforto com o arco-íris, lidando com direitos humanos como se fossem coisas do arco-da-velha. Naturalmente, não cabe à UEFA interferir nas deliberações do parlamento húngaro, mas, ao proibir a cidade de Munique de levar a cabo esta ação, não está a incorrer só numa violação da liberdade de expressão, mas também numa afronta à liberdade de iluminação. É que estamos a falar de luzes LED com cores diferentes a piscar. Para a UEFA, manifestar solidariedade com a comunidade LGBT através de diodos emissores de luz constitui uma mensagem política demasiado provocatória. Não quiseram incomodar Orbán com luzes, já que ele está tão confortável nas trevas. Na verdade, a UEFA proíbe mensagens políticas, menos a mensagem política da UEFA, que é: é-nos completamente indiferente a discriminação, a não ser a discriminação contra quem discrimina.

"A proposta de iluminar o estádio tem uma intenção de misturar política com o desporto". Dá-me a sensação de que quem lança esta frase não está somente a zelar pelo seu direito de ver um jogo de futebol descansado, sem ser apoquentado com temas fraturantes. Até porque a frase foi dita pelo ministro dos Negócios Estrangeiros húngaro, do governo de Órban, obcecado por futebol, que erigiu a Puskas Arena gastando 600 milhões de euros e que já investiu mais de dois mil milhões em futebol na última década.

O futebol de massas nasceu politizado e encontramos exemplos de aproveitamento do desporto em regimes autocráticos. O argumento de que "os direitos humanos não são uma questão política" não me parece ter solidez, podemos antes dizer que os direitos humanos são o tipo de questões políticas em que o futebol se deve envolver. A UEFA diz que a causa LGBT é uma causa política à qual não se pode associar, mas tem campanhas contra o racismo e posições acerca das alterações climáticas. A neutralidade da UEFA nesta questão não resulta num empate, mas numa saborosa vitória no último minuto para a Hungria de Órban. Com um golo do árbitro.

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