Nesta campanha eleitoral, falou-se muito de promessas – António Costa, então, prometeu tudo a todos – e falou-se pouco ou mesmo nada das reformas estruturais que o país continua por fazer, a começar pela do Estado que ficou na gaveta de Portas.
Hoje, com uma vitória clara da coligação - os portugueses, afinal, aprenderam mesmo a lição - é preciso ultrapassar a discussão partidária. A não-demissão de António Costa e as vitórias morais dos que reclamaram uma maioria de esquerda, ao género do golpe de Estado parlamentar, não ajudam a focar o país naquilo que, a partir de agora, é preciso pôr na agenda das prioridades. Ainda ontem, antes do discurso de não-derrota de Costa, os cenários estrambólicos em cima da mesa davam para tudo, e antecipavam o caos.
O Governo vai ter de aprender a negociar mais do que aquilo que fez nos últimos quatro anos, Passos vai ter de mostrar a habilidade política que demonstrou a negociar com Portas nas negociações e nos compromissos com a oposição, leia-se, com o PS. Com António Costa, que perdeu uma oportunidade para sair com dignidade e agora vai embrulhar-se em guerras internas imprevisíveis.
Da confusão do discurso final de Costa – uma síntese da confusão que foi a sua própria campanha – só se salvou a ideia de que o PS não estará disponível para assaltar o poder a todo o custo, para fazer alianças com aqueles que não querem o regime político e económico e social em que vivemos. Do mal, o menos. Seria o desastre para o PS, a sua ‘pasokização’, mas seria ainda pior para o país. E isso permitiu também olhar para o dia seguinte com uma ideia de maior estabilidade face àquela que se temia. Ou de menor instabilidade. Pelo menos, a coligação tem um prazo de validade até ao orçamento de 2017. Depois, logo se verá.
O Governo tem agora de tomar posse, primeiro, levar o seu programa ao Parlamento, depois, e garantir que fecha o ano de 2015 com um défice inferior a 3%. Uma condição essencial para, logo depois, apresentar o primeiro orçamento da nova legislatura. Os mercados, isto é, os investidores, estão aí, estão a olhar para o que o novo Governo, e o novo Parlamento, vai fazer. A olhar para o défice e para a dívida pública, que resistem, para a estabilidade do sistema financeiro, que continua periclitante, para a competitividade, que tarda. E nós continuamos a precisar deles.
E hoje é dia 5 de Outubro, dia da República, um dia que não vai contar com o seu máximo representante, o Presidente. Cavaco Silva diz que precisa de pensar, os portugueses também já estão a pensar, mas no próximo inquilino em Belém. Quem pode ser? A sondagem da TVI/TSF e Público dão a vitória esmagadora a Marcelo Rebelo de Sousa. Mas o 5 de Outubro é do povo, e pode ser acompanhado aqui, em 24.sapo.pt.
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