Dirão que o Brunei é apenas mais um país a aplicar a Sharia e que a comunidade gay corre perigo a norte, a sul, a este e oeste. O que é diferente neste caso? Talvez o facto do sultão do Brunei, um dos homens mais ricos do mundo, se estar positivamente nas tintas para as exclamações de protesto do Ocidente, as condenações de instituições ou países, ou o apelo dos artistas para boicotarem os hotéis que são propriedade do mesmo sultão. Não é por acaso que Hassanal Bolkiah está no poder desde 1967.

Está-se nas tintas porque é homofóbico, e está-se nas tintas por arrogância.

Manda dizer que o mundo tem de respeitar as suas decisões como ele respeita o que acontece em outros países.

Manda dizer que os padrões de comportamento devem ser vigiados, que a comunidade do seu país deve denunciar quem não cumpra um determinado padrão, que o século XXI afinal não significa nada em termos de evolução da sociedade porque a moral é absoluta, é categórica, é rígida e homofóbica.

Manda dizer que não tem medo do Ocidente e das ideias perversas do Ocidente. Talvez até mande dizer que pouco se importa se os seus hotéis forem sujeitos a boicote, com o tempo o negócio retoma o seu fluxo habitual, afinal quem é que vai ter em mente a lista dos diferentes hotéis que são propriedade do sultão?

George Clooney, Elle DeGeneres, Elton John, eis alguns nomes da lista de artistas que se têm manifestado sobre esta decisão do sultão. As suas posições públicas têm uma característica louvável: importa saber que ainda existem países nos quais os direitos humanos são ignorados, importa dizer alto e bom o nome das pessoas que prejudicam outras por pura fobia ou preconceito.

Os artistas também têm essa função, a de denunciar, a de reclamar por um mundo melhor. O que é triste é perceber que o impacto mediático vai esmorecendo, vai morrendo aos poucos e o sultão do Brunei conta com isso mesmo. Vai passar, a onda de protestos esvai-se, como tudo o resto, a Sharia já está em vigor e a vida continua.

É importante não deixar morrer estes protestos. É crucial reclamar o direito a uma sexualidade livre, longe dos moralismos e amarras de qualquer discurso religioso. E, sobretudo, é urgente que a comunicação social não se alimente da indignação face a decisões deste calibre com exaltação e depois descartando, como quem diz: old news.

Um dos dramas maiores da comunicação social no século XXI é o excesso de notícias e a forma ligeireza como deixámos de continuar em cima de certos assuntos. O mundo está demasiado feio para que nos limitemos a protestar e depois a seguir a nossa vida. Assim, não deixem mal a comunidade gay do Brunei, não passem já para outro assunto, fiquem aqui, protestem mais, peçam condenações e bloqueios internacionais, exijam justiça, exijam humanidade. Não passem já para outro assunto, um dia destes há alguém que vem defender a Sharia para a vossa rua, para a vossa cidade, para o vosso país.

Ou acham que só acontece aos outros?