Bruno Lage vai sair do comando técnico do Benfica, mas dificilmente isso resolverá os maiores problemas do clube. Não há uma escassez de treinadores capazes de pôr uma equipa a vencer na Liga Portuguesa no mercado. Aliás, vários técnicos a trabalhar atualmente em Portugal seriam capazes de dar o título ao Benfica. É aquele "risco" que Mário Wilson um dia mencionou. Quem verdadeiramente estreita os horizontes do Benfica não se senta num banco de PVC junto ao relvado, mas na mais ergonómica cadeira dos escritórios do clube.

O problema não é só Luís Filipe Vieira. É a dependência, a ideia errada de que não existe uma alternativa, a relação tóxica que os sócios desenvolveram com Vieira. Ainda ontem, Luís Filipe Vieira voltou à recorrente chantagem emocional, mencionando o estado em que o Benfica estava há duas décadas, repito, duas décadas. "Não deixem voltar o passado porque fomos nós todos que demos cabo do Benfica". Aquilo que aparentemente é "dar a cara" — disse até "sou o único culpado" — rapidamente se torna na culpabilização dos adeptos. Estamos mal, mas por vossa culpa isto pode ainda ficar pior. Em psicologia, chama-se a isto gaslighting. No futebol, referimo-nos a "mandar areia para os olhos". Já a geologia diz-nos que uma das causas da produção de areia é a erosão — e a do presidente é evidente.

Vieira amiúde ameaça sair do Benfica, como um marido que quer mostrar à esposa que sabe que ela não arranja melhor. Para tomar decisões neste momento inédito na história do clube, Vieira disse que ia falar com a família. Faz sentido, Luís Filipe trata o Benfica como se fosse a sua mercearia familiar. Sem amarguras, seria importante que Luís Filipe Vieira soubesse sair agora: ser-lhe-ia dado o mérito de ter tornado um clube recém-traumatizado e muito pouco competitivo no principal candidato ao título. Caso contrário, façam as malas, comprem um Lonely Planet e barrem o corpo com repelente de mosquitos: estaremos pela certa de volta ao Vietname.

É importante estipular que o ciclo de Vieira chegou ao fim para depois abordarmos o mais importante: como mudar de rumo? Até agora, nenhum candidato me entusiasma. O que não significa que não votasse em nenhum, mas espero que nos próximos meses apareçam outras vozes. Rui Gomes da Silva fez parte de direções de Vieira e está à partida desgastado; Bruno Costa Carvalho é o equivalente àquele concorrente Ídolos que participa em todas as edições, sendo eliminado na primeira ronda; Ricardo Martins Pereira dirige uma revista de lifestyle, que sugere precisamente planos que muitas namoradas querem fazer ao Sábado, dia em que dá a bola. "Amor, vai dar o Benfica." "Ai é? Mas o teu presidente disse para irmos experimentar os novos bubble waffles do Príncipe Real". Assim fica difícil.

Nenhum candidato é perfeito. Mas tal não é relevante. Relevante será a mensagem e as ideias de cada um. É importante que o actual presidente não impeça a actividade democrática nas eleições que se aproximam. O facto da BTV não organizar debates entre os candidatos devia fazer-nos pensar se o facto de termos conquistado uma série de campeonatos compensa a total perda da força do povo e da pluralidade dentro do Benfica. A eleição do próximo presidente do Benfica não está ganha por ninguém, ainda não chegámos ao tempo de compensação. Até ao Outono, é tempo ouvir novas vozes, de surgirem mais candidatos, de se debater a fundo o clube. Não faltam quinze minutos para as urnas fecharem, faltam quatro meses à Benfica.

Recomendações

Este filme.