Uma pessoa morreu atropelada por um Uber que conduz sozinho e o mundo reagiu como se a Skynet desse o primeiro passo para aniquilar a espécie humana. «É o que dá recorrerem a máquinas para tudo, os carros devem ser conduzidos por homens e mulheres!», lê-se, amiúde, pelas caixas de comentários dos jornais online. Será este o início da ascensão das máquinas, tão preconizada nos filmes de ficção científica, que irá aniquilar os humanos?
Talvez seja verdade e nos tenham vendido o futuro com demasiada expectativa como é habitual nesses filmes. O Regresso ao Futuro vendeu-nos a ideia de que, por agora, teríamos pranchas antigravidade, por exemplo, e o Terminator avisou-nos que a inteligência artificial iria lançar um holocausto nuclear para aniquilar os humanos. Pelos vistos, as máquinas pretendem alcançar o genocídio um atropelamento de cada vez. A este passo, o planeta bem que irá morrer à espera da nossa extinção. Calculo que aquelas máquinas do McDonalds onde podemos fazer os pedidos também sejam cúmplices e seja por isso que tanta vez vem um molho de mostarda em vez de maionese como havia pedido. Certamente que as máquinas das portagens também estão metidas ao barulho e é por isso que tantas vezes não aceitam notas e moedas e me fazem perder tempo precioso, matando-me de tédio e frustração.
Foi revelado o vídeo do atropelamento onde se vê a imagem exterior e interior: no interior, vemos um ser humano a olhar para baixo, distraído, como quem estava a ver o que se passava no Facebook ou a trocar vacas no Farmville; no exterior, vemos outro ser humano, distraído e a atravessar a estrada fora da passadeira, numa zona de fraca iluminação, na maior das calmas, a levar com o Uber no lombo e ir para a cloud. Percebe-se, facilmente, que a culpa ali foi dos dois humanos envolvidos, ambos, ao que parece, meio burros. Por muito que os sistemas autómatos evoluam, a humanidade terá sempre um grau superior de burrice e estupidez que ultrapassará a capacidade cognitiva e de previsão da inteligência artificial. Tal como a premissa de Deus que nos diz que se fomos criados à sua imagem prova que Ele (ou Ela) deve estar repleto de defeitos, também a inteligência artificial, criada com base nos nossos padrões, terá sempre as suas falhas e uma delas é a de não saber conduzir. Basta pensar que o sistema inteligente do carro está ligado à Internet e imaginar o que seria conduzir e aceder ao Pornhub ao mesmo tempo. Causaria distracções, obviamente, para não falar das travagens e acelerações repentinas. O mais provável, se o carro não fosse autónomo, era que o humano dentro do veículo o tivesse atropelado na mesma e, vendo que não havia ninguém ao redor, fugisse de imediato. Sim, se fosse uma pessoa a conduzir iria mais depressa e teria passado por ali muito antes do peão atravessar a estrada, bem sei, mas isso são detalhes.
Quando há um tiroteio nos EUA, os defensores de que as crianças devem ir com metralhadoras para a escola apressam-se a dizer que as pessoas matam pessoas e não as armas. Aqui, toda a gente aponta o dedo ao carro. É injusto. Os carros não matam pessoas, as pessoas matam pessoas. Tal como nos computadores, o problema está sempre entre a cadeira e o monitor, apesar da minha mãe achar que o computador dela tem vida e vontade própria, pois tudo o que de estranho acontece, ela diz que nunca fez nada. Temo que a Skynet, em vez de ter origem no departamento de defesa dos EUA, vá ter o seu epicentro no computador pessoal da Dona Belmira, habitante da Buraca, e que em vez do tal holocausto nuclear, tenha um plano ainda mais maquiavélico: agarrar nas fotografias da pasta Maio 2017 e espalhá-las no ambiente de trabalho para confundir a velha. O Word muda o tipo de letra? A minha mãe não fez nada. O PC deixa de dar som? A minha mãe não fez nada. O histórico do browser está cheio de pornografia? O meu pai não fez nada.
Enfim, quando todos nós, humanos, conduzirmos de forma imaculada poderemos criticar os carros autónomos, até lá vamos estar caladinhos e tentar a aprender como é que se contornam as rotundas, sim?
Sugestões e dicas de vida completamente imparciais:
Rir por uma causa maior é um espectáculo solidário que vai acontecer em Coimbra, dia 18 de Maio, em que as receitas obtidas revertem a favor das comunidades afetadas pelos incêndios de outubro de 2017, no concelho de Arganil.
Se estiverem no Porto como estou neste momento, podem comer em qualquer lado com 90% de certeza será bom e barato.
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