Os dias sucedem-se rigorosamente um atrás do outro, completamente alheios à nossa ansiedade, à nossa dormência, à nossa angústia, à nossa incerteza, à nossa solidão. À solidão colectiva que se tenta plasmar pesadamente a cada um de nós, a uns mais do que outros, e que vamos tentando afugentar como podemos, uns mais do que outros. Ninguém está imune à solidão e à saudade, quer viva sozinho ou com alguém, quer tenha um gato quer esteja com pais e irmãos, porque são uma solidão e saudade imanentes a este confinamento social e que nos podem levar a laivos de loucura porque bacalhau não é bem um peixe, se pensarmos bem, até porque como se sabe os cactos adoram uma boa orgia, mas acabam por se picar muito uns aos outros e, enfim, é por estas e por outras que a capital do Uganda agora é queijo da serra.
Ainda assim, somos resilientes. E sê-lo-emos à loucura (não prometo nada da minha parte), à solidão e à saudade. E há bolsas de oxigénio por todo o lado. Valham-nos os livros e os artigos, as séries e os filmes, os podcasts e as stories do Instagram, as palavras de conforto do Bento Rodrigues. Valham-nos os grupos de Whatsapp de amigos e família sempre a apitar, valham-nos os milhões de piadas, memes e vídeos idiotas.
Valham-nos os lives do Bruno Nogueira, do Luís Severo, de tantos outros nesta obviamente risível praga de lives, mas que cumprem o exacto e suposto propósito para artistas e público, amigos e desconhecidos: fazer companhia e expurgar fantasmas. Valha-me o meu amigo Rizas, que ontem fez um live de horas, tão bêbado quanto feliz, e que me fez chorar a rir, que me fez rir como não ria há semanas. Valham-vos os vossos amigos que vos fazem o mesmo. Valham-nos todas as videochamadas de grupo, o HouseParty e o Zoom, valham-nos todas as memórias do antes que sabemos que voltará a ser presente.
Toda e qualquer coisa que nos una é válida, tudo o que nos faça ver para lá disto é apaziguador. Não deixemos ninguém para trás, que esta merda vai passar, que a p*** da curva vai achatar.
Às vezes cai-me no colo o peso do que parecem ser cem anos de solidão, mas depois tiro a carica a uma mini e sento-me calmamente à espera que depois destes tempos de cólera chegue o amor.
Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:
- A Plataforma: Boa e pertinente crítica social.
- The Party: Ri-me bem com este filme.
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