Além das milhares de reacções de felicidade, houve várias a questionar a pertinência da notícia. Umas bem-intencionadas, “porque isto já nem devia ser notícia”, outras a camuflar o seu racismozinho sempre presente “somos todos iguais (…) falar em diferenças é criá-las”. Não querer ver as diferenças, sob um pretenso manto de verdadeira igualdade, é fazer parte do problema. A diferença não é o tom de pele das pessoas, a diferença está no tratamento de que é alvo, nos privilégios que se tem ou não, que esse tom de pele confere. E há diferenças abissais.
Fingir que não se sabe isso, ou é muito, muito, inocente, ou é muito, muito, desonesto a encapotar o seu racismo. É que é muito fácil, quando se é branco, dizer que não se vê tom de pele porque somos todos iguais. Faz parte do privilégio branco não fazer a mínima ideia do que é ser discriminado pelo tom de pele. Quando não sabemos, como eu também não sei, se calhar mais vale não arriscar dizer a quem não é branco o que deve ou não sentir.
Cláudio França não é o primeiro, mas é uma mais exceção do que já devia ser regra, ou normal. A representatividade é fundamental para uma sociedade mais igualitária, é de sobremaneira importante para as crianças negras que agora vêem no Cláudio um exemplo, é um foco de esperança para todos os que querem viver num país mais justo.
Ah, mas claro que também é uma aflição para os racistas que não tardaram a reagir. Os mais engraçados foram os que reclamaram com as rastas do Cláudio. Não é racismo, de certeza. Todos sabemos a importância que tem o lado capilar de um jornalista na sua competência. Se calhar deviam ter todos cabelo à beto, aquele risco ao lado a tapar meio olho.
Enfim, nem vou dar importância aos palermas do costume. É pena que em 2020 isto ainda seja notícia, mas é sempre uma boa notícia. O racismo combate-se todos os dias e em todo o lado, e este foi um passo muito importante para Portugal.
Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:
- A Morte de Ivan Ilitch: clássico de Tolstoi
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