Já mal o país se lembrava da carta aberta à falta de noção que recebeu, ou da Joacine ter sido possuída por um demónio do Twitter e ter encostado o Daniel Oliveira à extrema-direita, quando um condenado racista e nacionalista foi entrevistado na RTP a propósito de ser um super pai. Vai ser giro quando começar a ensinar as cores às crianças: “Olhem, filhos, isto é branco, o resto das cores é lixo, não precisam de saber os nomes”.
Entretanto, o muro de Berlim fez 30 anos de caído, tantos quantos fez a versão portuguesa da Rua Sésamo, ao mesmo tempo que tivemos #LulaLivre. Reconhecendo sobremaneira a importância da queda do muro, devo a minha gratidão eterna ao Poupas, Egas, Becas, Ferrão e restantes. Já sobre a libertação de Lula, isso da democracia e do respeito à Constituição é muito bonito, mas não tanto como o que escreveu Sara Winter, assessora da Damares Alves: “Lula quer que petistas sigam o exemplo do Chile? Saquear lojas, incendiar a propriedade privada, matar opositores, destruir tudo o que há no caminho e praticar sexo anal na rua.”
Entendo a preocupação. Um pouco por todo o mundo, de Barcelona a Hong Kong, passando pelo Chile e o Haiti, a forma mais comum de protesto nos dias que correm é a prática de sexo anal na rua. O Governo aumentou o preço dos transportes públicos? A China está a intervir cada vez mais na nossa democracia? Foram feitos presos políticos? Seja qual for a razão, é ver o pessoal sair exaurido de casa, munido de vaselina e viagra para desafiar as autoridades, principalmente as divinas, com essa prática herege do sexo anal. Aquilo de matar opositores ainda passa, mas prevejo que seja este advento anal que acabará por levar o mundo à ruína.
Por cá, um bebé foi encontrado no lixo, já está bem e saudável, e a mãe criticada por tê-lo posto no ecoponto amarelo, sabendo que bebés é no orgânico, que eles não são de plástico. O Marcelo visitou o sem-abrigo que encontrou o bebé e deu-lhe um abraço, e depois o senhor continuou a ser sem-abrigo. No Japão, as mulheres foram proibidas de usar óculos no trabalho. Em Espanha, há eleições pela décima sétima vez nos últimos quatro anos. Nos EUA, o Instagram vai acabar com os likes, naquela que parece ser a notícia mais aterradora de todas estas. E mais, e mais, e mais, por todo o lado do mundo.
É muito. É demasiado. É avassalador e faz-me viver num limbo entre querer estar informado sobre tudo e não querer saber de nada.
Estava a vasculhar este antro de ilusão e desencantamento que é a internet. Encontrei tudo quando se calhar preferia ter encontrado nada.
Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:
- Memórias da Plantação: Estou a ler este livro da Grada Kilomba, e tanto quanto estas primeiras 50 páginas me permitem avaliar, é incrível.
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