Numa altura em que o tema se agarrou discretamente à sociedade como um broche ao peito, tenho gostado muito dos argumentos de quem é contra. E ainda bem que há tanta gente com bom senso. Que isto, por este andar, é prostitutas, é droga, é casamento gay, e damos por nós numa orgia mundial imunda que origina o fim dos tempos perante a fúria de Deus. Paremos antes disso, por favor.
“Ninguém é prostituta por opção” ou “ninguém sonha ser prostituta!”. Gosto muito destes argumentos porque assumem – com toda a legitimidade moral que os autores decretam a si mesmos – as suas convicções como certas para todo o mundo. Se eu não quereria nunca ser prostituta, ninguém havia de querer com certeza. Eu costumo usar também este argumento para outras profissões como contabilista ou fiscal-de-linha. É impossível alguém querer ser tais coisas por vontade própria.
“A prostituição não é um trabalho digno porque é trocar sexo por dinheiro”. Excelente. Mais uma vez, a decidirem que o seu conceito de dignidade é o que está certo para toda a gente. Uma coisa é certa, mais indigno do que alguém se prostituir, só mesmo alguém que o faça e ainda pague Segurança Social, IRS, tenha direito a seguro de saúde, fundo de desemprego, e todas essas coisas absurdas e medievais. “Mas isso é tornar um corpo num objeto do capitalismo”, argumento que me apareceu ali pela esquerda. Sim, mais vale fingirmos que o capitalismo não existe e que ninguém no mundo precisa de (e quer muito) dinheiro. Ah, como é bonito o sonho do comunismo!
“Legalizar não vai resolver o problema do tráfico humano”. Verdade. E como só vai ajudar algumas mulheres e não todas, mais vale deixar como está. Assim como assim, é sabido que a única solução é acabar com a prostituição de vez e os nojentos tarados que a usam. O sexo em si já é algo um pouco imoral e sujo, de que o mundo pode bem abdicar se não for para fins reprodutivos. É proibir a prostituição e o sexo antes do casamento, e isto resolve-se num instante.
Ora, obviamente eu sou da opinião que se deve legalizar, regulamentar e fiscalizar a prostituição por todas as razões e mais algumas, sendo a principal uma maior proteção (não perfeita, mas muito melhor do que a situação atual) das mulheres ou homens que a praticam (por opção, ou não). Bem sei que é um assunto complexo, mas se o querem discutir a sério vão ter de pôr de lado os argumentos da vossa moral pessoal. São válidos para vocês mesmos, mas tornam-se patéticos quando os tentam aplicar a toda a gente.
Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:
- Sri Lanka: Escrevo-vos directamente deste país maravilhoso. Até agora, estou a gostar muito, e é um excelente treino para quem quer ir à Índia (minha viagem preferida até agora, mas bastante mais duro que Sri Lanka).
- BBC Three: Outro excelente canal de YouTube com pequenos documentários muito interessantes.
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