Num dos dias quis conhecer a zona renovada da cidade, the Quays, dominada pela surpreendente arquitectura do Imperial War Museum, e onde se concentram as cadeias de televisão, na chamada “media city”. Ali ao lado fica o clássico estádio do Manchester United, onde nesse fim-de-semana se realizaria o ultimo jogo da Liga Inglesa. Para nossa surpresa, naquela tarde cheia de sol, a zona estava “invadida” por adeptos dos dois clubes que, em teoria, àquela hora estariam nas bancadas do Old Trafford. Não percebi imediatamente por que raio os adeptos estavam a beber cervejas cá fora, em vez de estarem no estádio – mas depois, à hora do jantar, nos noticiários, tudo se esclareceu: uma ameaça de bomba tinha obrigado à evacuação do estádio e o desafio fora adiado.
No dia seguinte, a ameaça de bomba parecia uma anedota: antes do jogo, a polícia tinha realizado um “ensaio” de atentado terrorista, durante o qual se esquecera de retirar uma “falsa bomba” colocada numa casa de banho. Um espectador, ao ver o que lhe parecia ser um artefacto, denunciou à polícia o que encontrara, e o estádio foi prontamente esvaziado.
Recordo este episódio, um ano mais tarde, porque foi elogiada a rapidez com que as autoridades britânicas reagiram ao atentado de segunda-feira passada – e quando vi esses elogios, não pude deixar de me recordar dessa cena, aparentemente ridícula, mas na verdade relevante, que adiou o final da Liga Inglesa de Futebol, mas garantiu a segurança de milhares de espectadores de um jogo de futebol.
Os factos já nos ensinaram a não nos fiarmos em todos os cuidados que infelizmente somos obrigados a ter – mas também fazem com que, caso a caso, tenhamos cada vez melhores “armas” para nos defendermos desse inimigo silencioso, obscuro, inesperado, a que chamamos, para simplificar, terrorista. Alguém que jamais saberemos se age sozinho ou organizado, que tem direito a comunicado do proclamado estado islâmico sem que tenhamos a certeza se lhe pertence ou não, e que acima de tudo não escolhe com rigor, ideologia ou argumentação política, as suas vítimas.
O problema destes terroristas sem história está exactamente na forma como, aos poucos, por mais vítimas que façam, tornam banal e irrelevante a sua luta. O que querem? Lutam por que causa? Onde se inspiram? Como se organizam? As perguntas sucedem-se, mas as respostas são cada vez mais ténues, menos estruturadas, e esvaziadas de conteúdo. Deixam de ser terroristas e lutadores, para se tornarem criminosos comuns. Deixam de lutar por uma causa, para serem lunáticos que acreditam numa segunda vida, que tudo indica que não vão ter.
Os atentados têm sempre vencidos e vencedores. Não há inocentes neste domínio. Mas a falta de lógica, estratégia, inteligência e ideologia, transforma-os em crimes comuns, hediondos na mesma, mas sem nada que os sustente. Ainda bem que morrem, vítimas dos crimes que cometem. Se sobrevivessem, obrigavam-nos a repensar, no mínimo, a prisão perpétua.
Três olhares sobre três realidades
Os vídeos que os clássicos meios de comunicação produzem sobre os acontecimentos que marcam a actualidade constituem uma das marcas da nova informação. Eis aqui um bom exemplo, da revista “Time”, sobre o que se passou em Manchester.
Simplesmente fabuloso o vídeo que o jornal inglês The Guardian produziu sobre Roger Moore. Chamam-lhe, sem receio, “vídeo obituário”, e junta a morte com a homenagem, numa mistura tão elegante quanto factual. Vejam...
Um debate que está na ordem do dia: a política das redes sociais, nomeadamente do Facebook, relativa ao que “pode” e “não pode” entrar na rede. A investigação do The Guardian é, no mínimo, preocupante.
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