Alberto Nuñez Feijóo, líder do PP, está a tentar mobilizar a direita para que reunifique em torno do Partido Popular. Pretende que estas estas eleições locais e autonómicas sejam uma espécie de referendo em que ambiciona a derrota do governo das esquerdas encabeçado pelo socialista Pedro Sánchez.

É por isso que nas eleições deste próximo domingo as atenções estão focadas noutra contabilidade que não apenas a dos municípios ganhos e perdidos por um e por outro. O número de votos em cada partido e em cada bloco (o das direitas e o das esquerdas) vai corresponder ao melhor lugar na grelha de partida para as eleições (provavelmente no dia 3) de dezembro.

O barómetro com resultados divulgados esta semana pelo Centro de Investigaciones Sociológicas (CIS), introduziu uma certa surpresa ao colocar os socialistas na frente das intenções de voto, com 2,3 pontos percentuais de vantagem sobre os populares: 30,2% para o PSOE, 27,9% para o PP. Neste último barómetro também vemos a direita extrema do Vox e a esquerda extrema do Podemos empatadas com 8%.

Se o resultado for este, Pedro Sánchez vai ficar exultante e Alberto Feijóo com o rosto franzido. Mas há que tomar com reserva as tendências nas sondagens que, em Espanha, têm repetidamente falhado a realidade do voto.

Seja como for, a perceção é a de empate técnico no topo (PP e PSOE) e também na luta pelo terceiro lugar (Vox e Podemos).

O combate eleitoral está renhido e assim vai ser, cada vez mais, até final do ano.

O socialista Pedro Sánchez está tão empenhado nesta campanha como o PP Alberto Feijóo. Aliás, o governo das esquerdas, com sucessivas anúncios de milhões de euros ao encontro do desejo do eleitorado progressista, também está em campanha. Sánchez parece estar a conseguir contrariar a desmobilização que era temida.

É significativo que Sánchez tenha escolhido Barcelona para fecho da campanha, na próxima sexta-feira. O socialista Colboni está bem colocado para vir a liderar o próximo município da capital catalã. As sondagens mostram empate técnico entre três forças políticas, mas com os socialistas em ligeira vantagem sobre dois partidos catalanistas, um alinhado à esquerda e outro que agrega a direita tradicional da Catalunha.

Barcelona e a Catalunha são trunfos para Sánchez: o líder socialista teve a sabedoria para – apesar de muito atacado pelas direitas que o acusam de concessões contrárias ao interesse do Estado espanhol – recoser a relação entre o poder central de Madrid e a autonomia catalã.  A questão independentista está adormecida.

Alberto Feijóo mostra que conta com estas eleições do próximo domingo como trampolim para se impor como o líder indiscutido da direita espanhola, tal como foi noutro tempo José Maria Aznar. Para isso, precisa de conseguir reagrupar o centro-direita, a direita e os ultras e, ao mesmo tempo, absorver o que resta do Ciudadanos, partido que há meia dúzia de anos parecia lançado para o topo do governo, mas que entretanto se esvaziou. O problema para Feijóo é o Vox, que fixou uma fatia do eleitorado que provavelmente não está convencido a voltar ao PP.

O PP sabe que o combate eleitoral de Barcelona lhe passa ao lado – ainda que os votos populares possam ajudar a decidir a maioria. Conta com triunfo amplo em Madrid, ainda que com uma candidata, Isabel Ayuso, cujo populismo não faz o gosto de Feijóo.

Para o PP, a conquista mais desejada é Valência, tanto o município como a Comunidade Autónoma. É a disputa mais mediática nas eleições do próximo domingo.

Valência foi por muitos anos um feudo do PP, até que a sucessão de histórias de corrupção acabou com essa hegemonia. As esquerdas conquistaram Valência, cidade e comunidade, nas eleições de 2015 e conseguiram a reeleição em 2019. 

Ximo Puig, candidato socialista à reeleição em Valência é uma figura chave para simbolizar o resultado das eleições deste próximo domingo: resistência dos socialistas e das esquerdas ou viragem para o PP e as direitas?

O resultado de Valência pode ser ambíguo: há o cenário de vitória do PP mas com as esquerdas a manterem maioria e, portanto, a presidência local.

Outro lugar com muita expectativa sobre o resultado da batalha eleitoral é Sevilha: o velho feudo do PSOE caiu (também na sequência de histórias de corrupção) nas últimas eleições para o PP. Agora, as sondagens apontam a possibilidade de o PSOE recuperar a alcaldia da capital andaluza.

O resultado das eleições do próximo domingo (são conhecidas em Espanha como “28-M”) vão ser lidos em número de votos e em praças fortes conquistadas ou perdidas.

A seis meses da decisão sobre quem vai presidir ao governo de Espanha, muito está em jogo neste 28-M. Os dois principais partidos buscam uma injeção de otimismo mas ao mesmo tempo temem sair golpeados. Parecem empatados.

O PSOE parte à defesa das posições que tem (com a aspiração de segurar Valência e conquistar Barcelona). O PP parte ao ataque, de modo a mudar o ciclo político.

Mas nos seis meses que se seguem há outras movimentações a ter em conta no tabuleiro político do Reino de Espanha. Há para ver se os partidos nacionalistas bascos e catalães continuam virados para o apoio ao governo Sánchez. Há também para ver como se desenvolve a recomposição da esquerda mais à esquerda que integra o governo Sánchez, na sequência da cisão no Podemos com a mediática Yolanda Diaz a formar um novo partido, o Sumar, mas com conveniência eleitoral de listas comuns Sumar+Podemos. E há para ver como se posiciona o Vox em função dos resultados em 28-M.

Cada eleitos sabe que o voto no próximo domingo é suposto premiar ou castigar a gestão local. Mas todos estarão, ainda que inconscientemente, a pensar no rumo que Espanha vai seguir a partir das eleições gerais em dezembro.