Queridos, queridas e querides (sim, eu sei, marxismo cultural), acreditem que eu não queria falar sobre isto. Mesmo que volta e meia fale sobre o assunto nas minhas redes sociais, não é um assunto que aprecie particularmente e, sou-vos mesmo honesto, adorava nunca ter de falar sobre isso. Mas cá estamos para mais um pequeno balanço do ódio que grassa na internet contra mim. Já sei, já sei, muitos já estão a pensar “lá está ela a vitimizar-se para aparecer”. Daí ter começado por tentar esclarecer que adorava, mas adorava mesmo, nunca ter de falar sobre isto só que – creio – começa a ser um pouco demais.

Acho perfeitamente normal que muita gente não goste do meu humor, que não goste dos valores que defendo. Sobre os valores, claro que é logo meio estranho, sendo que o que defendo – genericamente – é o feminismo, o anti-racismo, o anti-fascismo ou os direitos LGBTIQA+. Mas acho mais do que legítimo, mesmo que com estes princípios concordem, não se revejam na forma como sobre eles falo. Está tudo bem, juro. Nem sequer a minha família ou os meus amigos mais próximos estão sempre de acordo com as minhas opiniões, nem perto disso.

Agora, eu não sei se não começa a ser um pouco esticado, que eu receba quase diariamente mensagens ou comentários de gente a dizer que me vai espancar e para eu começar a ter cuidado a andar na rua, de gente que me quer matar ou pelo menos ver morto. É possível que esteja a ser drama queen, claro, mas também é possível que não seja propriamente aceitável que o sentimento de impunidade digital seja tal, que tanta gente se sinta constantemente legitimada para “filho da ****, quando te apanhar na rua vou-te matar” com a naturalidade de quem bebe um copo de água. Eu sei que muitos já estão “tu pões-te a jeito, quem semeia ventos colhe tempestades”. Mas será? Será que há crónicas minhas ou posts meus a desejar a morte a outras pessoas e eu nem dei conta? Será que ando por aí a dirigir-me a pessoas de quem não gosto, ou com as quais não concordo, a dizer que as quero espancar? Tenho ideia que não, mas corrijam-se se estiver enganado.

Agora, e juro pela minha morte que mais uma vez não vos minto, começa a ser ainda mais (talvez apenas ligeiramente) problemático quando estas situações extravasam a net. Quando o Nuno Luz (já contei a história noutros meios e não vou repetir aqui), e outras pessoas, se sentem legitimadas para se dirigirem a mim na rua e me insultar e ameaçar, começa a ser um pouco mais preocupante.

Nos últimos dias, com o agravar de violência que me trem sido dirigida (felizmente sempre acompanhada de muito amor de outras pessoas), tenho recebido também muita preocupação de amigos e familiares, tanto com a minha saúde física como mental. E é precisamente a preocupação deles aquilo que mais me preocupa. Eu estou bem, prometo. Mas dá cabo de mim que estejam a deixar ansiosos aqueles que gostam de mim.

O que me parece é há uma máquina de ódio que é exponencial, em que muita gente vai alimentando o ódio de muita outra gente, sem sequer haver uma verdadeira razão para me desejar morto.

É novamente possível que eu esteja enganado, mas eu diria que é possível não gostar do meu trabalho e, ao mesmo tempo, não me querer matar.

Bem sei que esta crónica ficou completamente autocentrada, por causa dos acontecimentos recentes. Mas basta aplicar o mesmo pensamento a qualquer outra pessoa que passe por isto, antes que alguém apareça morto numa valeta sem necessidade nenhuma.

Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:

- Eixo do Mal: bom episódio desta semana;
- Lisboawood: que espectáculo (teatro) incrível. Bem sei que já tem todas as sessões todas esgotadas e que parece parvo estar a recomendar, mas fica já para quando voltarem com novas datas.

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