Está em causa, na escolha nos 27 países dos 720 eurodeputados, que a Europa continue ou não a adotar medidas verdes e azuis de combate às alterações climáticas, mitigação dos efeitos e avanço da transição energética.  Também em causa a orientação nas políticas sobre acolhimento de migrantes, o posicionamento sobre interrupção de gravidez e questões de género e até mesmo o relacionamento com Putin. O chefe do Kremlin estará certamente a torcer pelo crescimento da ultradireita internacional que neste fim de semana reuniu Orbán e Le Pen, Meloni e Abascal, também Ventura e outros na convenção realizada na antiga praça de touros que agora é a Arena Vista Alegre, em Madrid.

A Europa unida nunca teve ameaçada como agora a continuidade da grande coligação fundadora entre conservadores(PPE) e social-democratas(S&D) que também passou a envolver verdes e liberais. Este eixo político central que, apesar de muitas falhas e fraquezas tem dado vida ao projeto europeu de sociedade aberta com a dose possível de solidariedade, pode ficar dinamitado, seja porque parte da ala conservadora decide trocar o centro-esquerda pelo abraço às direitas mais à direita, ou até por o crescimento destas possibilitar o pacto para uma nova maioria de comando no parlamento da Europa.

Esta alternativa de Parlamento Europeu todo à direita é improvável.

Todas as sondagens, as publicadas e as de circulação interna entre as principais famílias políticas, anunciam crescimento dos partidos soberanistas da direita ultra. Crescem mas, prevê-se, não o suficiente para fazer cair a atual maioria – no entanto, conservadores e social-democratas vão ter de continuar a aliar-se a liberais, verdes e outros grupos ao centro para manterem a liderança política da Europa.

Esta tendência para continuidade minguada da atual maioria na Europa precisa de ser verificada na noite de 9 de junho. A viragem mais forte para a direita é um cenário que não está excluído.

O resultado da eleição dos 720 eurodeputados é determinante para a escolha de quem vai liderar a governação europeia a partir de Bruxelas. Ursula van der Leyen vai continuar a presidir à Comissão? Há quem prefira o italiano Mario Draghi, o “super Mario” que, ao comando do BCE, salvou o Euro na crise financeira desencadeada em 2008. A ultradireita europeia deseja alguém como Orbán. Também importa saber quem serão os rostos da Europa na presidência do Conselho Europeu (sucessão do belga Charles Michel) e na condução da política externa.

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O Eurobarómetro, desenvolvido nos 27 países em encomenda do Parlamento Europeu como auscultação sobre as preocupações da cidadania mostra angústias com a propagação de pobreza, a deterioração do sistema público de saúde e a ameaça de guerra maior com a invasão russa da Ucrânia.

Entre as principais prioridades para os eleitores europeus no Eurobarómetro de abril estão a proteção da paz (47% dos inquiridos) e a democracia (33%). 

Precisamos que o debate não coxeie e que estes sejam temas devidamente tratados na campanha que leva ao voto em junho e que o jogo de forças reforce a solidez democrática da União Europeia.

Na legislatura de cinco anos que agora termina, a Comissão Europeia foi valente a encontrar resposta comum à Covid-19, que deixou marcas que subsistem, ficou confrontada com o modo de reforçar a arquitetura de segurança (não apenas militar, também energética, alimentar e sanitária) do continente perante a invasão russa da Ucrânia, e ainda está a resistir às ameaças de recessão económica.

A Europa não conseguiu estar coesa na resposta a questões como as migrações, a crise da habitação e a escassa competitividade perante as grandes potências. Também passa por aqui o que está em causa no voto europeu de junho.