Tudo é uma cópia de uma cópia, de uma cópia, de uma cópia. Tanto na vida, como na música. Os dias sucedem-se e por mais que tente "Shake it off", Taylor Swift não consegue escapar à Fight [luta] esmagadora que é a monotonia da rotina automatizada da sociedade que lhe pede incessantemente aquelas canções que são a fast-food da música. A indústria para a qual trabalha está minada pelo capitalismo selvagem e, sem escrúpulos, não tem o mínimo pudor em enganar — às vezes com consequências fatais — os consumidores, chegando a dizer-lhes que reggaeton é boa música.
Taylor tem insónias que estão a levá-la à loucura e só grupos de ajuda, como o "Selfieómicos Anónimos", lhe dão algum oxigénio. Está à beira do colapso mental quando conhece Kim Kardashian, uma mulher que subiu a pulso na vida, desde que era criada da Paris Hilton até chegar ao topo do influencing mundial. De certa maneira, vende sabonetes. Não os produz, mas se usarem o código #KARDASHIAN10 têm 10% de desconto na sua compra.
É então que Taylor encontra o seu opulento e fastidioso palacete reduzido a cinzas. Faz umas instastories a chorar, contando o sucedido ao mundo. Kim repara e convida-a para irem tomar o brunch — porque uma taça de açaí com granola sem glúten vai ajudá-la, com certeza, a se recompor. Acabam a brigar desferindo socos com a mão invisível do mercado livre a rasgar-lhes as peles hidratadas com cremes que custam mais que o PIB de um país pequeno. É neste momento que tudo se adensa com a criação do Fight Club.
Em caves por todo o país, mulheres regurgitam com os punhos todas as suas raivas e frustrações da vida, a opressão do capitalismo, o nojo do patriarcado. Taylor e Kim vivem juntas, lutam juntas, partilham pensamentos e visões, desenvolvem planos para o mundo, e alimentam até uma relação amorosa com o Kanye West, um outro fingidor que Taylor havia conhecido nos grupos de apoio. Mas tudo isto está numa espiral desenfreada de auto-destruição. A revolta de Taylor com o mundo é a revolta de Taylor consigo mesmo. Kim, por sua vez, é o espelho do que Taylor queria ser: livre, solta e completamente despreocupada com a sua inocuidade e falta de substância enquanto famosa de reality shows. E se ao início estavam em sintonia nas revoltas, Taylor já não se revê na loucura e nos planos de destruição anárquica do mundo de Kim, que seria à base de operações plásticas e de uniformização da beleza consoante os preceitos impostos pelo dinheiro.
E é nesta confrontação que Taylor se apercebe: Kim é parte dela e tem de ser destruída. Operações plásticas são pensos rápidos que mascaram a dor sem tornar o mundo um sítio melhor.
Num momento apocalíptico, Taylor destrói Kim, sem medo de enfrentar o mundo como ele é. E ainda fica com o Kanye (o que à partida não é grande consolo).
No Dia da Mulher, o SAPO24 convidou humoristas para escreverem sinopses alternativas de filmes cujos protagonistas são homens mas que, neste contexto, seriam substituídos por mulheres. Num mundo ainda muito marcado pela desigualdade de género, utilizamos o humor para tentar mostrar o que (ainda) é diferente e (ainda) é igual no tratamento que todos nós damos a homens e mulheres.
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