Jorge Jesus deixou de ser o treinador do Benfica. Numa conferência de imprensa que fez lembrar o género de conversa que os progenitores em vias de se divorciar têm com os filhos, Rui Costa e Jorge Jesus anunciaram o fim da relação entre o clube e o técnico, entre lamentos do que podiam ter vivido juntos. Foi uma separação aparentemente amigável que os sócios — como fazem, por vezes, os filhos — já pediam há algum tempo. No entanto, não foram os lenços agitados dos adeptos do Benfica a precipitar a saída de Jesus, mas mais provavelmente as toalhas atiradas ao chão pelos jogadores. Jorge Jesus encontrava-se na mesma situação de um frequentador de ginásio que usa desodorizante Axe: ninguém podia com ele no balneário.
Jorge Jesus, só no último mês, poderia ter saído do Benfica por várias razões. Contudo, o que motivou a saída do técnico não foi o facto de perder de forma claríssima o derby com o Sporting numa época em que não pode falhar; não foi o facto de se ter reunido com dirigentes do Flamengo antes de um confronto decisivo com o outro rival; não foi o facto de ter sido novamente encostado pelo Porto. Não. Foi despedido porque um jogador com peso no plantel mostrou descontentamento com a exibição do Benfica e as opções do treinador. De todas, a razão menos grave.
Naturalmente, as situações acastelaram-se. Mas termos chegado a este ponto em que tem de ser o balneário a correr com o treinador diz-nos muito sobre a atual gestão do Benfica. Não foram os maus resultados ou sequer os dates com o Flamengo que tornaram claro para a direcção do Benfica que Jorge Jesus já não servia os interesses do Benfica, mas uma querela interna que, num cenário mais estável, seria resolvida entre portas. O treinador vindouro terá um desafio agridoce: por um lado, fica com a ideia de que pode falhar os objectivos a que se propõe sem ser corrido; por outro, sabe que não pode embirrar com determinados elementos do balneário sob pena de ser alvo de um coup d'etat. Isto é o género de imbróglio em que um clube se mete quando o projecto desportivo de uma direcção é sempre o de salvar a pele.
O balanço deste ano e meio é claramente negativo, mas é muito injusto dizer que a segunda era de Jorge Jesus no Benfica não foi marcada por boas exibições e resultados. Até se jogava bem à bola, especialmente em jornadas que antecederam eleições para Presidente do Benfica.
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