Simples, não é? Pois é. Mas até Miguel Amaro, Ben Grech e Mariano Kostelec, os três ex-colegas universitários que tiveram a ideia, a terem posto em prática nunca ninguém o tinha feito. As boas ideias valem dinheiro mas a capacidade para as passar do papel ao terreno dando os passos certos vale muito mais.
A prova disso é que a Uniplaces acaba de conseguir um financiamento de 22 milhões de euros de um grupo de investidores que não anda nisto a “jogar a feijões”. Dinheiro que vai servir para financiar a expansão da empresa que já alugou mais de 30 mil quartos a estudantes de 140 nacionalidades, que emprega 120 pessoas, está presente em 38 cidades e gerou este ano cerca de 10 milhões de euros em contratos para os senhorios. Tudo a partir da sua sede, no Bairro Alto, em Lisboa e depois de ser incubada na Startup Lisboa.
Falo da Uniplaces por ser o exemplo que está mais à mão por proximidade temporal. A notícia do investimento é desta terça-feira e o montante foi o maior conseguido por uma empresa portuguesa em processos de levantamento de capital deste tipo. Mas também podia falar da Farfetch ou da Talkdesk, da Seedrs ou da Codacy. Da Followprice ou da Muzzley. Da iClio ou da Landing Jobs. E dezenas, centenas de outros, mais antigos ou mais recentes, mais ou menos tecnológicos, mais globais ou mais locais, que nascem em salas de estar, garagens, espaços emprestados ou incubadoras e aceleradoras como a Startup Lisboa, a Beta-i, a Fábrica de Startups, o Instituto Pedro Nunes de Coimbra ou o UPTEC do Porto, para falar apenas de alguns.
É o tal mundo do empreendedorismo, em que cada vez mais promotores tentam fazer e desenvolver negócios ou projectos sociais, com recursos escassos e poucos ou nenhuns apoios mas donos de uma ideia em que acreditam e da teimosia suficiente para a passar à prática. Alguns ficarão pelo caminho? Claro, mas certamente se levantarão.
Sim, é também este mundo que causa urticária a muita gente, naquela atitude típica de “não faças, não deixes fazer e tem raiva de quem faz”.
A diabolização e crítica ao empreendedorismo tem várias origens. Há quem ridicularize aquilo que acha que não passa de uma moda como as calças à boca de sino ou o gin. Sobre isso já João Vasconcelos, director-geral da Startup Lisboa escreveu há uns dias na Visão: "Já cheira terrivelmente a bafio dizer que o empreendedorismo é uma moda. Olhamos à volta e deparamo-nos com um movimento nacional com vida própria”.
Há também quem dispare contra tudo o que cheire a negócio, a iniciativa privada, à criação de empregos próprios e alheios, a uma cultura que prefere estar do lado das soluções e não dos problemas, de ver oportunidades em vez de obstáculos.
E também há os que preferem ter empresas e projectos dirigidos a trela pelo Estado, tutelados por favores avulso à margem das regras do mercado, onde o mérito de empresários e a escolha dos consumidores e clientes pouco ou nada vale.
A massa crítica que o empreendedorismo português já atingiu é uma má notícia para todos esses que recusam perceber que o mundo mudou.
O mundo mudou e o país vai mudando graças à evolução da tecnologia. Há uns anos, muitos destes negócios que nascem em incubadoras privadas, associativas ou de polos universitários estariam condenados pela falta de massa crítica da economia pequena que somos, pela dificuldade de acesso ao mercado global e pela histórica falta de capital e de verdadeiros capitalistas, que arriscam à espera de um retorno incerto.
Um bom projecto de comércio electrónico ou uma solução tecnológica com mercado podem nascer em qualquer lugar e, a partir daí, chegar a todo o lado com um investimento relativamente baixo. As plataformas tecnológicas são hoje um poderoso nivelador de oportunidades e de capacidades. A democratização económica e social que permitem são uma das melhores notícias dos últimos tempos. Quem prefere as castas pode ficar com as dos vinhos, certo?
Outras leituras
Já passaram duas semanas desde o dia em que António Costa saiu de Belém a dizer que estava pronto para formar Governo com o apoio do PCP e do BE e ainda não há um entendimento fechado. Perante o Muro de Berlim, não se sabe se o líder do PS o derrubou ou se vai contra ele.
Investimento público do bom? Aqui está ele, finalmente: o Túnel do Marão. Para obras destas vale a pena pagar impostos.
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