Há jogos que fazem lembrar pessoas e pessoas que ensinam que há jogos em que o cliché de “a melhor defesa ser o ataque” não é verdade: esta é uma premissa que deveríamos carregar, a partir de agora, às Costa(s).
Não fosse o futebol um manancial de histórias para contar, por viver, e um poema que rima quando se acredita que estamos sempre a tempo de ver o que ainda não foi feito. Chegamos a visitar estados de alma que nos levam para muitos sítios, em que, por vezes, nos podemos cruzar com finais felizes quando não nos resignamos na hora do braço de ferro. O apito final é a machadada para algo que termina, mas que pode ditar recomeços, e engolir sapos deixa de ser opção porque há sempre a hipótese de aparecer um príncipe.
Nas arenas mais cobiçadas da Alemanha, Portugal viveu um dos momentos mais sublimes do Euro 2024. Espero que este tema não fique fora de moda tão depressa porque há uma linha muito ténue que separa um bom resultado de uma boa vitória.
Para muitos, o confronto contra a Eslovénia não foi apenas um jogo. Foi uma saga épica que marca o início de um novo campeonato para os portugueses. Sente-se no ar quando se respira expetativa por todo o lado. É como se tivéssemos acabado de assistir ao D. Afonso Henriques a conquistar os mouros ou a presenciar a aparição de Nossa Senhora de Fátima. “É tudo uma questão de crença”, dizem. Mas um novo conto estava pronto para ser escrito e um novo herói desejado nasceu para dar vida ao brasão que ostenta: Diogo Costa aparece como uma faísca de esperança, uma verdadeira muralha, que fez com que a nação acreditasse no impossível ao fazer jus ao “Não há dois, sem três”.
Na verdade, a improbabilidade nem sempre vence, mas conta a história de 2016 que na vida há males que vêm por bem. Cristiano Ronaldo é o nosso titã que carrega nas suas botas os sonhos “de mil homens para o que há de vir”, onde em cada toque, cada passe, cada finta mostra uma resiliência de bradar aos céus. Quis o destino entregar-lhe um penálti, mas o destino tudo dá, tudo leva, e tirou-lhe o golo, caindo no desalento da impotência de não poder voltar atrás quando tudo à volta se torna minutos que parecem horas. No entanto, foi apenas o episódio que antevia o prelúdio de algo grandioso, acompanhado de um frenesim repleto de tiques nervosos enquanto quem espera... desespera.
Foi então que o nosso guardião, com a destreza de um puma e a serenidade de um futuro capitão, defendeu três penáltis de forma magistral. Cada defesa foi uma obra-prima de intuições e reflexos, cada mergulho uma sinfonia imponente de gritos e mãos na cabeça. E a “mancha” que evitou o fim? Ainda se pensa nela quando a adrenalina nos consome, nos cafés e nos escritórios, e o rescaldo de uma vitória enternecedora está presente de forma fervorosa.
Os memes não se fizeram esperar, inundando as redes sociais com humor e criatividade. As capas dos jornais, com "Portugal ao peito" correram o mundo. Marcas e empresas não perderam a oportunidade de brincar com o momento, criando trocadilhos.
E como toque final, o relato apaixonante de Nuno Matos, que narrou o jogo com uma intensidade inconfundível, tornou-se o despertador ideal para todos os lusos que acordam maldispostos pela manhã.
Diogo Costa ganhou mais de 200 mil seguidores em poucas horas depois de um feito que até ao dia parecia impossível. Mas o seu maior exército junta-se nas bancadas do estádio, no sofá em casa, nas cadeiras do café, devendo clamar, sexta-feira, o que se grita na subida do trono de um novo monarca:
- “Vida longa ao Rei!”
A coroa está posta, e por agora, pertence ao Diogo Costa!
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