Completa-se hoje um ano sobre o lançamento do SAPO24 enquanto site de informação do Portal SAPO gerido por uma empresa independente de media, a MadreMedia. O lançamento do site aconteceu a 20 de setembro de 2016, mas como sabem todos os que lançam projetos digitais - na realidade, provavelmente é assim com qualquer tipo de projeto - o primeiro dia é o dia zero em que se suspira de alívio porque se conseguiu o propósito primeiro, que é "por no ar", e em que se passa o resto do tempo entre a satisfação do “conseguimento” e a azáfama de resolver os “inconseguimentos”.
O primeiro dia do resto das nossas vidas é, por isso, o dia seguinte. E hoje completamos um ano sobre esse dia seguinte, o primeiro dia “normal” do SAPO24, em que passámos a fazer tudo o que é suposto fazer numa redação que se propõe ser a âncora de informação do maior portal de conteúdos do país.
Nestas datas redondas, fazem-se balanços e nos projetos de media isso traduz-se em dar números, mesmo que saibamos que não dizem tudo (nem em media, nem no resto). Porque fazemos um ano, e porque não temos falado disso durante todo um ano, vamos ceder à tentação do balanço. Tem importância para nós e tem importância para quem nos pergunta, mesmo que os números de audiência sejam menos importantes para os leitores do que a experiência que têm com a informação que lhes é disponibilizada pelos meios de comunicação que escolhem para se informar (e ainda bem).
Os números no digital tornam-se com facilidade complexos ou com uma dimensão difícil de perceber. Entre os milhões nas pageviews nos sites e os milhões dos seguidores nas redes sociais, há toda uma realidade que, por comodismo ou simplificação, muitas vezes fica por descodificar. Mas porque tudo o que existe é mais ou menos em comparação com outra coisa, ajudam a perceber tendências e comportamentos, neste caso no que respeita à forma como as pessoas estão a consumir informação.
É com essas premissas que trabalhamos há um ano. As pageviews representam o número de páginas vistas e, sendo uma medida padrão das audiências, são também uma das causas de muitas das críticas ao jornalismo. É para gerar pageviews que se fazem títulos enganadores, é para gerar pageviews que se abusa de fórmulas sensacionalistas. Por vezes, é também para gerar pageviews que se usam recursos potencialmente bons e úteis como o envio de notificações para o telemóvel ou para o computador, que permitem aumentar a proximidade ao leitor e sinalizar situações que devem ser sinalizadas. Este é um exemplo entre vários que a tecnologia oferece de soluções que podem ser excelentes ou criticáveis dependendo do uso que se lhes dá.
No fim do dia, isso gera um número. No fim do dia, isso permite algumas vitórias. E não há meio de comunicação, mais sereno ou mais ruidoso, que não use estas possibilidades do digital. Nós usámos algumas no SAPO24 e não usámos de todo outras.
No fim da história, o uso destas ferramentas naquilo que pode representar de aumento de proximidade, de participação e de possibilidade de dar um contexto mais alargado para interpretar a realidade faz diferença. Não faz toda a diferença, porque, apesar de tudo, não é assim tão diferente de outras coisas que já aconteciam antes do primado do digital.
O digital trouxe-nos uma mudança de plataformas, de formas de consumo, de possibilidades de interacção mas não nos mudou radicalmente como seres humanos. Continuamos a ser o que somos. E, por isso, quando se fala de audiências importa, na nossa opinião, duas coisas: com quantas pessoas estamos a falar e com que pessoas estamos a falar. No caso do SAPO24, estamos a falar de uma média mensal de oito milhões de visitas ao site por mês realizadas por 2,5 milhões de utilizadores (dados de junho 2017). As pessoas que nos lêem - ou que visitam o site, para usar a terminologia das audiências - gastam em média oito minutos em cada visita. Não é pouco, nesta nossa vida agitada, dedicar oito minutos do dia a um site. É essa escolha e essa confiança que queremos continuar a merecer e a reforçar.
Escolher o que se vai ler, como se vai interagir com o meio que escolhemos, com as pessoas que produzem as notícias, com as pessoas que lêem as mesmas notícias que lemos, vai definir-nos tanto como outras opções que fazemos nas nossas vidas. Quem insulta em caixas de comentários, quem comenta a notícia sem ler sequer já existia antes do digital - apenas se expressa agora desta maneira. Da mesma forma que sempre existiu quem escrevesse notícias para assustar, impressionar, criar “sensações” - e assim vender jornais ou programas de televisão. O que teremos cada vez mais de decidir é o que queremos ser, como jornalistas, para quem está na profissão, e como leitores que somos todos. É aí que acreditamos que se trava a batalha pela qualidade, pela decência, pelo futuro.
Nós acreditamos que esta é uma época de grandes possibilidades para se fazer um jornalismo mais completo, mais inclusivo, mais participado. Uma época cheia de dificuldades e armadilhas, mas ainda assim de grandes possibilidades. E, sendo uma redacção pequena, temos todos os dias que fazer opções. Não será arriscado dizer que há sempre alguma opção errada todos os dias, mas é seguro dizer que procuramos que as opções certas sejam sempre em maior número.
Partimos para o segundo ano do 24 com dois grandes propósitos: sermos ainda mais exigentes nas nossas opções (e sim, às vezes significará deixar para trás alguma coisa que todos os outros estarão a fazer, ou porque têm mais recursos ou porque pensam diferente) e estarmos cada vez mais próximos de quem nos lê. Foi por isso que fechámos este nosso primeiro ano e início de segundo com o lançamento do Local24, um espaço com notícias de todos os distritos e concelhos de Portugal, onde vamos querer aprofundar o contacto com quem nos lê em todo o país e as formas de participação da comunidade.
A mesma premissa vai levar-nos a outras paragens, como o reforço da nossa rede de colaboradores que nos ajuda a ler o mundo, a dar contexto, a perceber a realidade que nos rodeia, cada vez mais intensa e complexa.
Não se acaba um texto destes sem dizer que este desafio só tem sido possível porque há uma equipa que que acredita no que faz e que todos os dias vem trabalhar motivada para fazer melhor. E também não se termina um texto destes sem dizer obrigado a um conjunto de pessoas. Aos nossos leitores em primeiro lugar, aos nossos parceiros e rede de colaboradores que nos acompanharam sempre ao longo deste ano, e às equipas técnica, comercial e de gestão do SAPO. Provavelmente não são os tempos mais fáceis para se ser jornalista e para se lançar uma empresa de media independente, mas é também isso que faz deste desafio algo que vale a pena ser feito.
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