
O problema para eles é o Digital Service Act, as regras com as quais a União Europeia – ninguém mais no mundo as tem – pretende controlar as Big Tech. É a vanguarda legislativa que impede os abusos de poder dos colossos digitais ao definir-lhes normas, obrigações e pesadas sanções, que impõe a segurança verificada dos sistemas de Inteligência Artificial utilizadas e o respeito, na Europa, dos direitos fundamentais e dos valores europeus. Tudo isto causa aversão à gente que se toma por todo-poderosa e que agora chegou ao topo do poder Make America Great Again, os MAGA que têm uns imitadores MEGA na Europa
Na linguagem de Trump, isto traduz-se por “a Europa está a tratar-nos mal”. E por isso deve ser atacada.
Washington ataca com armamento pesado e geopolítico. E pla via da ingerência até nas miudezas das entranhas políticas.
As eleições no próximo domingo na Alemanha são o primeiro terreno de combate: Musk anda ativíssimo nas redes, nos ecrãs e em pessoa a puxar pela direita mais ultra na União Europeia, a AfD, herdeira direta do passado nazi. Conta com a amizade do húngaro Órban, cavalo de Tróia dentro da União Europeia, e apoia Le Pen, Abascal e outros que se opõem ao modelo europeu. O objetivo da estratégia Musk é o de pôr fim a um bloco de 500 milhões de pessoas – a União Europeia quase sempre instável, quase sempre incapaz de chegar aos objetivos mais audaciosos, quase sempre encravada por divisões internas – e reduzi-la ao retrocesso para 27 países, cada um por si, com escassos argumentos para impor posições fortes. É também o que deseja o russo Putin. Em Pequim, Xi Jinping, talvez até tenha algum interesse em que a União Europeia persista como contrapeso intermédio à escalada hegemónica dos EUA de Trump.
A mentalidade de sucessivas gerações europeias das últimas décadas tem incorporada a certeza de que a guerra na Europa é algo que depois da catástrofe de 1939/45 ficou abolida para sempre. Daí a hostilidade que foi crescente ao gasto em Defesa e a reclamação de canalizar o que seria gasto militar para políticas de desenvolvimento social. Julgava-se que para tratar qualquer remota ameaça militar bastava e sobrava o guarda-chuva militar americano.
Bruscamente, em menos de um mês, os europeus constatam que Trump vai para lá do que vociferava.
Os últimos dias mostram que a Europa não está apenas abandonada pelo poder nos EUA que também quer fazer colapsar as instituições internacionais e supranacionais
Os ideais que nutriram a democracia americana, as suas promessas, compromissos e estratégias de robusta e solidária aliança ocidental caducaram. O Ocidente deixa de ser a referência A Europa passou a ser um alvo. Trump prefere um mundo de imperadores. Ele põe-se à cabeça. Puxa por Putin. Há-de querer negociar com Xi Jinping.
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