Estes são momentos em que não sabemos o que vai acontecer. Mas conseguimos apostar no que não vai acontecer.
Não vamos ter um governo estável. Esta é fácil. Só um entendimento sério e comprometido para a legislatura entre PSD/CDS e o PS conseguiria dar ao país uma perspectiva de estabilidade governativa. António Costa optou por outro caminho para ser primeiro-ministro e tentar levar os socialistrs ao poder, única forma de continuar a liderar o partido após a derrota nas eleições que não podia perder. Seja qual for a solução que resulte da charada política que temos pela frente, será sempre uma solução fraca. Se for a coligação a governar, é Pedro Passos Coelho quem tem o seguro de vida do cargo nas mãos de António Costa. Se for António Costa a governar, estará sempre refém do BE e do PCP. Esperar destes dois partidos um apoio firme a um governo que tem de fazer e cumprir orçamentos rigorosos durante toda a legislatura é esperar que eles neguem a sua razão de ser. A governação vai ser feita dia a dia, lei a lei, medida a medida. Sempre com a corda na garganta e eleições à espreita.
Não vai haver reformas estruturais. Governos fortes e com apoio maioritário de um só partido não gostam de reformar. Governos fracos não podem reformar. Fazer reformas é incomodar muita gente. É alterar práticas de décadas. É combater interesses instalados à mesa do orçamento. É comprar guerras permanentes, ter protestos na rua e greves frequentes. Nada que passe pela cabeça de um primeiro-ministro que a tem a prémio de forma permanente. De uma forma ou de outra teremos um governo que será pouco mais do que um governo de gestão para tratar do expediente mínimo.
A Segurança Social não vai ser reformada. Alcançar a sustentabilidade implica mexer nos benefícios - que têm que ser menores - e nas contribuições - que têm que ser maiores. Medidas duras e impopulares, como se sabe. A urgência demográfica e económica não vai dar tréguas, à espera que os políticos se entendam. Podem aparecer mais alguns remendos, mas que não serão mais do que isso.
As condições de competitividade da economia não vão melhorar. Cá dentro temos instabilidade, incerteza, imprevisibilidade e políticas erráticas. O que vai acontecer ao IRC? E às leis laborais? E às taxas de juro? E ao ambiente regulatório? Ninguém sabe. Lá fora temos economias em desaceleração e focos de instabilidade política em vários mercados importantes - Angola, Brasil, China. A Alemanha espirra e a Europa pode constipar-se de novo. Portanto, teremos mercados a definhar e menos capacidade para os atacar. O resultado não pode ser bom.
As contas públicas não vão chegar ao equilibrio. A dívida pública só começa a descer de forma sustentada quando deixarmos de fazer défices anuais. Isto não é economia nem política: é aritmética. Governos fracos (ver primeiro ponto) não conseguem equilibrar contas. Se conseguirmos manter o défice abaixo dos 3% do Tratado Orçamental já será um milagre. Défice próximo de zero? Não acreditamos no Pai Natal, pois não?
O próximo Presidente da República não vai ter vida fácil. É possível que o próximo Presidente tome posse com uma tarefa importante na agenda: resolver se leva ou não o país para eleições assim que os prazos constitucionais o permitam. Será certamente preciso mais do que a tradicional “magistratura de influência”. Vai ser necessário arregaçar as mangas e meter “as mãos na massa”, decidir, fazer opções em vez de esperar que alguém as faça por ele (ou ela). Ao mesmo tempo, será fundamental que o próximo inquilino de Belém seja uma referência de estabilidade, de seriedade e de traquilidade no ambiente revolto que se antevê à sua volta. Não é coisa pouca.
Mudanças (também) lá fora
Não confundir estes “liberais” com os do lado de cá do Atlântico. Lá, nas Américas, os liberais são os dos costumes, os de esquerda. Foi nestes que o Canadá votou. Vale a pena conhecer a agenda de Justin Trudeau.
Se a Apple avisa é porque alguma coisa vai acontecer. Agora é na indústria automóvel.
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