Mas a realidade é que o povo nunca lhe deu essa oportunidade, mesmo concorrendo contra um poder atual do PS pouco competente e alternativas pouco mediáticas. Nas últimas eleições ficou a 350 votos e isso, associado a uma ambição desmedida, parece ter feito com que subisse mais um nível na retórica trauliteira, numa escala que se mede, obviamente, pela negativa.
Não há matéria em que não teça opinião, não há projecto a salvo de chacota, não há proposta que seja positiva, não há associação ou colectividade que não seja alimentada pela rede clientelar que diz existir em Montijo. Tudo está mal; todos pensam mal. E ele – João Afonso – posiciona-se como o salvador impoluto e sem mácula que fará o Montijo grande e duma transparência moral a toda a prova.
Pelo caminho dizima toda uma ética democrática, as normas de convivência ou de bom trato entre eleitos e os munícipes que ousam pensar diferente. Pessoalmente, nada me move contra João Afonso. No plano intelectual e político, já é outra questão. Aliás, como o próprio disse publicamente, estarei nos seus antípodas…
Sendo um canhão à solta, a Cultura não poderia estar a salvo. Quer as formas de expressão artística, quer os agentes culturais locais são alvo para um chorrilho de chavões populistas por parte de João Afonso, que farão sentir constrangido qualquer cidadão ou cidadã com um mínimo de sensatez. Recentemente, o vereador, através das suas redes sociais, decidiu tecer a sua crítica artística à exposição de pintura Strange Habits, de Xavier Garrett, patente na Galeria Municipal de Montijo até 23 de Novembro.
Mais do que um crítico de arte, João Afonso pretende ser um polícia moral, um protetor social. De forma paternalista quer preservar o cidadão incauto de expressões artísticas provocatórias e como um grande irmão evitar que as nossas crianças sejam expostas a tudo o que foge da norma. No fundo, enquanto vereador, João Afonso, não sabe muito bem o que deve ser, confundindo o trabalho de eleito local com o de programador cultural, imiscuindo-se no trabalho de curadoria e de livre criação artística, princípio basilar de qualquer democracia moderna. Vai, de resto, ao arrepio do seu próprio programa eleitoral às últimas autárquicas, onde se comprometia a, cito, “Contratar um Programador Cultural e nomear um Conselho Artístico, independentes do poder político, para criarem e gerirem um calendário cultural integrado. Este calendário implica programação de qualidade, para vários públicos e em todo o concelho”. Proposta que, na generalidade, acompanho.
Naturalmente, João Afonso vitimizar-se-á com estas e outras tomadas de posição públicas que possam aparecer, como de resto é usual na cartilha populista. Mas, os actores políticos que tentam escavar os fundamentos da nossa democracia para atingir um novo grau zero na política devem merecer o repúdio e oposição de todos os cidadãos e cidadãs livres.
Enquanto comunidade temos de perceber que a ação do vereador João Afonso não faz progredir Montijo socialmente, antes o torna tacanho, fechando-o numa pequenez intelectual na qual, estou certo, os montijenses não se revêem.
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