
Portugal tem, pela primeira vez desde que o colégio cardinalício foi criado, quatro cardeais eleitores no conclave que irá escolher o sucessor de Francisco: D. António Marto, D. Américo Aguiar, D. Manuel Clemente e D. José Tolentino de Mendonça – mas, na história da Igreja, já teve dois Papas, um dos quais antes de ser país independente.
Dâmaso I liderou durante 18 anos o Vaticano no século IV e João XXI só governou 242 dias no século XIII, mas deixou um legado também na área da medicina e ciências naturais.
Papa Dâmaso I
Nascido em Idanha-a-Velha, então Civitas Igaeditanorum, o Papa Dâmaso I, foi elevado a Santo. Mas se para os portugueses da região é certo que o Papa ali nasceu, em Espanha também há quem diga que o nascimento do lado de lá da fronteira — uma informação difícil de confirmar com rigor porque existem poucos registos da época.
É considerado um dos pontífices que institucionalizou a Igreja como a referência do final do Império Romano, coincidindo com o momento em que a adoção do cristianismo foi adotado como religião oficial, decretado pelo imperador Teodósio.
Na ocasião, a Igreja estava a consolidar a sua doutrina canónica e existiam vários cultos, como o arianismo, que tinha muitos seguidores.
Foi eleito em 366, mas opositores arianos elegeram um antipapa, Ursino, que foi derrotado após uma guerra civil dentro da Igreja, mediada pelo imperador Valentiniano.
Após a vitória de Dâmaso, o império passou a reconhecer oficialmente a competência da Igreja em matéria de fé e de moral, e Dâmaso pode dedicar-se à consolidação doutrinária da religião cristã, tendo encomendado uma das primeiras traduções oficiais da Bíblia, por São Jerónimo.
Em Constantinopla, presidiu ao II Concílio Ecuménico, onde publicou a fórmula da confissão de fé, com a definição dogmática sobre a Divindade do Espírito Santo, foi o primeiro Papa a usar o anel do pescador como símbolo papal e ordenou a comemoração das festas da Assunção.
Papa João XXI
Séculos depois, já com Portugal independente e pouco depois da reconquista do Algarve aos mouros, foi a vez de outro Papa português, desta vez não apenas pelo local de nascimento mas também pelo percurso eclesiástico.
Pedro Hispano, também conhecido como Pedro Julião, foi eleito Papa a 20 de setembro de 1276, tendo morrido 242 dias depois.
Nascido em Lisboa, de uma família nobre de médicos, Pedro Hispano ensinou medicina na Universidade de Siena e foi nomeado arcebispo de Braga.
Em 1275, Gregório X nomeia-o médico principal do Vaticano e, num período conturbado da Igreja, com a morte sucessiva de vários pontífices, é eleito Papa em 1276, num conclave realizado em Viterbo, adotando o nome de João XXI.
No seu curto pontificado, jurou fidelidade ao XIV Concílio Ecuménico de Lyon, que pedira o diálogo com os ortodoxos orientais com vista a superar o cisma da cristandade.
O poeta Dante Alighieri, na Divina Comédia, retrata João XXI, colocando-o no Paraíso, junto da alma de São Boaventura, com elogios ao seu trabalho intelectual.
No final do seu pontificado, João XXI delegou as principais tarefas no cardeal Orsini, que lhe veio a suceder como Nicolau III, e retirou-se para Viterbo, onde veio a morrer após o desabamento parcial de uma parede do palácio apostólico.
*Com Lusa
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