Nessa medida, o mais provável é que o Campeonato Europeu de Futebol decorra com normalidade, sem ataques, sem ameaças, sem mácula. Mas o objectivo fundamental do terrorismo islâmico já está mais do que conseguido: incutir em todos nós a semente do medo, o culto de prevenção, e a tranquila aceitação de políticas violadoras da nossa privacidade, e da nossa liberdade de movimentos, em nome da segurança, em nome da paz".
Infelizmente, tive razão. Mas bem pior do que isso, irrelevante face à dimensão dos acontecimentos, é perceber que nesta guerra surda entre nós e "eles", nem é preciso organização ou estrutura: qualquer ser, nem me atrevo a chamar-lhe humano, pode ter a iniciativa de se armar e atirar a matar, seja pela causa (que provavelmente nem sabe bem qual é…), seja por pura homofobia, racismo ou loucura. E nunca tardam 24 horas até que o denominado estado islâmico venha reclamar os louros.
É mais grave do que há oito dias escrevi. É um caos imprevisível e incontrolável, impossível de prevenir ou detectar. Como um vírus, dissemina-se sem que se veja, é aproveitado por quem tem algo a ganhar com isso - e é improvável que venhamos a saber se tem algum fundamento organizado ou sequer uma vaga ideologia, religião, causa, que justifique o massacre. Entrámos no reino da loucura - e neste quadro, aproveita quem quer e pode, e sofre quem não tem sequer forma de se defender.
O atentado, massacre, carnificina, como queiram chamar-lhe, de Orlando, é talvez a mais grave ameaça à cultura ocidental desde há muitos anos. Porque passa ao lado de organizações, estruturas, planos de ataque, terrorismo organizado. Resulta apenas da vontade de um homem, influenciado por essa sombra escura, religiosa, cultural, social, que paira sobre nós permanentemente. Durante muito tempo, chamámos-lhe fundamentalismo religioso, que desembocava em terrorismo - o que pressupõe organização e planificação.
Agora, temos de lhe arranjar outro nome. Porque passou a ser a ameaça do vizinho do lado, onde se confundem e misturam preconceitos, credos, psicoses. E já ninguém põe as mãos no fogo pelo vizinho do lado.
Para ler na rede por estes dias…
Nada como ir à fonte quando o tema é quente: a cobertura do jornal New York Times sobre o atentado de Orlando, que vitimou mais de 50 pessoas e se tornou no maior massacre em solo americano desde o 11 de Setembro, tem sido exemplar. No rigor, no cuidado com a especulação, na actualização permanente. Um exemplo, de que os assinantes usufruem totalmente, mas os visitantes também podem acompanhar.
De hoje a oito dias, a Grã-Bretanha vai às urnas, em referendo, decidir se quer ou não permanecer na União Europeia, num processo a que se chamou, para facilitar a linguagem, "Brexit". Para quem ainda tem dúvidas sobre o que está em causa, esta página da BBC põe tudo em pratos limpos. Vale a pena.
No dia 26 de Junho, a Espanha tenta, pela segunda vez este ano, encontrar estabilidade governativa, entre os novos partidos que agregaram a indignação e a contestação gerais, e os velhos partidos que andam aos papéis, a tentar recuperar o espaço perdido. Ainda que seja claramente apoiante do PSOE, o diário El Pais tem feito uma cobertura mais clara, explicativa e inteligente do que os seus concorrentes. Fica a minha sugestão.
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