Esta semana, na véspera do jogo do Benfica com o Besiktas, o treinador Rui Vitória tinha marcado uma conferência de imprensa para o final da tarde. Eu estava no carro, parado no trânsito, quando liguei o rádio e ouvi o jornalista, que esperava a chegada do técnico, lamentar o atraso no começo da ses
Ou muito me engano, ou Álvaro Cunhal deu algumas voltas na tumba no fim‑de‑semana passado. Coerente, firme, implacável, teimoso, julgo acertar se disser que não lhe passaria pela cabeça engolir a "geringonça", obrigando-o - como obrigou Jerónimo de Sousa - a, num único discurso, dizer que sim e que
É bem mais do que uma notícia, é uma revolução, ou pelo menos o começo de uma revolução: o Governo decidiu oferecer os manuais escolares a todos os alunos do 1º ano de escolaridade.
Sem preconceitos: é no mínimo estranho que o "mundo pule e avance" a ritmos e passadas tão diferenciadas conforme as áreas que queiramos observar. Dos anos 60 até ao começo do século XXI, e refiro-me apenas à Europa, vimos os homossexuais ganharem os direitos mais que legítimos ao casamento ou, nos
Se não fosse triste e lamentável, podia ser de rir, ou uma notícia do "Inimigo Público": uma instituição do Estado, o Tribunal de Contas, num relatório sobre a execução orçamental da Administração Central, crítica o Estado a que pertence por exigir aos contribuintes o que o próprio Estado não cumpre
Quando era adolescente, havia nos jornais (e nos pacotes de açúcar?) uns casais de bonecos com um ar vagamente pateta que acompanhavam frases - igualmente tolas, na maioria dos casos - sob o genérico "Amor é…".
Subitamente, num Verão manchado pelo sangue e pelo terror, um jogo veio abanar as vidas de milhões de pessoas e, ainda que por minutos, deixá-las fora da loucura que nos rodeia e entrar numa bastante mais pacata aventura: apanhar, com um telemóvel, bicharocos que julgávamos desaparecidos.
Às vezes pergunto-me: que mais pode a candidatura de Donald Trump fazer, a começar no próprio candidato, para demonstrar que não quer governar um país, mas quer montar um circo romano em Washington? A esta pergunta, espanto dos espantos, responde o "povo" com apoios, aplausos, uma Convenção rendida
É de uma enorme presunção auto-citar-me, bem sei - mas depois do massacre de Orlando, no fim de semana passado, tornou-se irresistível. Escrevi neste mesmo espaço, há oito dias: "O Ocidente receia o Estado Islâmico, o fundamentalismo, a loucura que não poupa nada nem ninguém, que não olha a meios pa
No começo, também suspirei de alívio: um ecologista conseguira vencer a escalada, aparentemente imparável, da extrema-direita nas eleições austríacas, numa segunda volta renhida até ao último minuto. Mas foi só no começo.
Uma coisa é certa: dei por isso. Terça-feira passada, aterrando em Lisboa depois de alguns dias fora, o habitual discurso da assistente de bordo da TAP incluía uma novidade - saudava os passageiros à chegada ao "Aeroporto Humberto Delgado". Nem Portela, nem Lisboa. Humberto Delgado. Desde sábado, di
Depois de, na semana passada, termos sabido que alguns agentes e responsáveis pelas investigações policiais no tráfico de droga, no activo ou na reforma, eram parte interessada do negócio, recebendo luvas, camuflando operações, ou mesmo desviando o olhar das autoridades para horizontes dourados enqu
Todas as guerras em que as partes em confronto não têm as mesmas armas são, por natureza, injustas. Todas as guerras em que as partes em confronto têm princípios diferentes sobre a forma de combater, e sobre ideias simples como "não matarás à traição", estão por natureza perdidas por quem, apesar de
Sei que já se disse tudo sobre Nicolau Breyner. A sua morte, além de nos apanhar de surpresa, revelou o lado transversal da sua existência. Não foi apenas o grande actor que morreu. Nem o realizador, ou o criativo, ou o humorista. Ou até mesmo o ser humano generoso. Foi um pouco mais do que isso: fo
Ontem foi o dia de um homem só. Acompanhado, rodeado, acarinhado. Mas só. Ontem foi o dia de Marcelo Rebelo de Sousa, o novo Presidente da República, sozinho, sem partidos nem "apoios", sem cadernos de encargos nem deves e haveres de fretes e favores, exibir a Portugal como pode ser diferente a polí
Daqui a poucos dias haverá menos um nome na lista dos "culpados" de tudo o que sucede em Portugal. Para o bem e para o mal. Ficará como "culpado" de males passados, mas já não de mazelas futuras. Cavaco Silva cede a Presidência ao recém eleito Marcelo Rebelo de Sousa, sai de cena, e teremos menos um
O debate entre António Guterres e Durão Barroso, que a RTP promoveu na terça-feira passada, teve todo o tipo de comentários e análises. Mas houve duas tendências maioritárias e divergentes nessas reacções: as que elogiaram a carreira internacional de ambos, e os conhecimentos e sabedoria que daí res
A notícia começa a ser recorrente: um jornal que decide "migrar" para o digital e deixar a versão em papel impresso, ou mesmo (como aconteceu com a revista FHM) fechar de vez e terminar um ciclo de vida. Esta semana, depois de meses de boataria, foi o britânico The Independent - e o excelente domini
Houve um tempo em que ter carro era coisa de rico. Reconheço a ideia em filmes dos anos 40 e 50 do século passado, e em muitos romances que recuam a essas décadas. Mas não era nascido na época em que o mundo ocidental considerava o automóvel um objecto de luxo.
Tenho lido e ouvido o depoimento de muitos profissionais da hotelaria que declaram, sem qualquer espécie de vergonha na cara, que os preços não vão baixar na restauração mesmo que o IVA volte aos 13% de há uns anos. Ou seja: os mesmos que, quando o IVA subiu para os actuais 23%, fizeram recair sobre
Sempre que há eleições, lembro-me de um episódio caricato que vivi há duas ou três vidas - e que me ajuda a relativizar a vida, as pessoas, a política. Ao ver a reportagem da SIC, com Marcelo Rebelo de Sousa, na passada segunda-feira, primeiro dia do candidato eleito, essa historieta voltou a sentar
Tornou-se um dos temas mais debatidos nesta campanha morna: Marcelo Rebelo de Sousa levaria vantagem porque foi, ao longo dos últimos anos, comentador politico na TV e na rádio. Ou seja, tornou-se popular. Que eu saiba, não há estudos que comprovem essa relação directa - e a minha intuição diz-me qu
A semana foi tão marcada pela figura e pela obra de David Bowie que é difícil escapar-lhe. Já tudo foi dito, as canções recordadas, as múltiplas imagens do camaleão devidamente assinaladas. Há primeiras páginas de jornais notáveis, como a do francês Liberation e do britânico The Guardian; há textos
A Constituição da Republica Portuguesa não estabelece um patamar acima do qual (ou, mais rigorosamente, abaixo do qual…) a ideia de democracia ganha contornos de ridículo, absurdo, de estapafúrdio, de risível. Se o fizesse, tenho a certeza que os momentos que vivemos nestas semanas já estavam no top