Confesso que vi o debate sem qualquer espécie de preconceito. Para mim, é tão legítima a vida de Tony Carreira em França como a de Durão Barroso em Bruxelas ou a de Ronaldo em Espanha. Somos livres de escolher o nosso caminho - e é triste, ou pelo menos injusto, que se peça aos políticos o que nem sequer se põe em causa nos futebolistas ou nos gestores. Orgulhamo-nos da carreira de Horta Osório na Banca inglesa, ou de Mourinho no futebol europeu, mas depois queremos que Guterres fique aqui a aturar a mediocridade reinante, que tanto o julga pelo que faz, como pelo o que não faz. Parece que ser politico é uma devoção - tudo o resto é carreira…
Não consigo julgar assim, e por isso analiso o percurso de Guterres como o de Ronaldo ou Paula Rego: portugueses que perceberam que o mundo era global, e que podiam ir mais longe fora do rectângulo. Tenho orgulho naqueles que conseguem dar esse passo. E até tenho a saloia tentação de admitir que as suas vidas trazem mais-valias para a imagem de Portugal no Mundo.
Dito isto, e depois de os ver debater - mais do que um debate, foi um encontro e uma entrevista dupla… -, impressionou-me, no que a impressão pode ter de saudável e positiva, o olhar global que ambos têm do mundo actual. A quintarola onde sempre vivemos, e de que vivem os habituais debates televisivos, foi substituída pela riqueza de um olhar que vê para lá do óbvio, que consegue analisar à distância, e que tem a noção clara da complexidade dos problemas que nos rodeiam. Ambos estão uns anos-luz à frente da pequena política nacional, da guerrilha de lugares e de empregos e de carreiristas - e com essa clareza conquistam-nos, porque nos exibem um cenário onde cabemos todos por igual.
António Guterres é menos optimista do que Durão Barroso (o que talvez possa ser explicado pela diferença entre andar no terreno e estar num gabinete aquecido em Bruxelas). Durão Barroso, pelo seu lado, valoriza mais a ciência e a tecnologia, e acredita que a evolução de ambas trará vantagens de que todos beneficiaremos. Os olhares de ambos são diferentes, mas completam-se na dimensão humanista que perseguem, e no reconhecimento de que o nosso futuro passa mais pelos equilíbrio que conseguirmos juntos do que pelas guerrilhas que persistimos em alimentar.
A RTP fez serviço público ao juntar os saberes de António Guterres e Durão Barroso num único encontro - e os dois usaram esse serviço para nos enriquecerem com ideias, perspectivas e pistas para um futuro que é mais presente do que outra coisa qualquer.
Por momentos, tive orgulho em ser português. Há melhor?
Coisas que me deixaram a pensar esta semana
No momento em que a notícia mais corriqueira de todos os dias é o fecho de mais uma edição em papel de um jornal, os donos do britânico Daily Mirror decidem surpreender: no final do mês nasce em Inglaterra o New Day - um novo jornal diário, exclusivamente em papel, que se vai ligar às redes sociais e à web apenas para efeitos de criação de debates e comunidades. A notícia não podia ser mais optimista e surpreendente, com um piscar de olho às mulheres…
Chama-se “birthday cam” e é a mais recente brincadeira inventada pelo Facebook para nos mantermos ainda mais dependentes da rede social. No dia do aniversário dos nossos amigos, o facto já nos era lembrado - agora, o Facebook criou uma funcionalidade que permite fazer um pequeno vídeo e enviar os parabéns aos aniversariantes de uma forma ainda mais próxima. Que mais vão inventar a seguir?
Rir é essencial: é isso que nos garante Shannon Reed neste delicioso texto, publicado há dois dias na edição online da revista The New Yorker. Ele responde à misteriosa questão de domingo que vem: quem são os obscuros membros da Academia que vão eleger o Óscar para Melhor Filme? As respostas são, no mínimo, hilárias…
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