O que estudam as mulheres no Afeganistão?

Esta foi a pergunta de uma grande amiga, em plena Feira do Livro que terminou no domingo passado. Eis uma questão pertinente sobre a qual nunca tinha pensado e, imagino, a maioria das pessoas tão-pouco. Tenho lido muito sobre o Afeganistão. Temo que o futuro tenha ficado comprometido há demasiado tempo e que um governo taliban só possa significar retrocesso. No caso das mulheres significa muitas outras coisas, entre elas violência, limitação de liberdade de expressão, de circulação, de pensamento.

O ministro da educação afegão, Abdul Baqi Haqqani, é peremptório: “Não vamos permitir que rapazes e raparigas estudem juntos. Não vamos permitir a coeducação”. Ora, as raparigas que tradicionalmente naquele país só podem ser ensinadas por professores do sexo feminino, deixam de poder coexistir com os rapazes ao nível universitário. Nas escolas primárias e secundárias são proibidas turmas mistas. Não foram proibidas agora, já o eram antes.

Não existem tantas professoras quanto professores. A isto acresce a pergunta da minha amiga: qual é o conteúdo, o programa de ensino, para as mulheres? O que vão ensinar às meninas que comecem a ir à escola?

Todas as mulheres que frequentarem a universidade, assim fazendo valer, na opinião dos taliban, os costumes e tradições afegãos, terão de usar véu islâmico. Mas o que aprenderão?

O ensino é separado há muito tempo, nunca foi coexistente, nunca proporcionou aos estudantes no Afeganistão a frequência de aulas mistas. Como as mulheres só podem ser ensinadas por mulheres e estas são cada vez menos, não tendo nenhuma rapariga conseguido concluir o Ensino Secundário em 2019, a pergunta pertinente quanto ao que lhes é ensinado é de uma importância relativa, porque o que se pretende é a promoção do analfabetismo. O ministro da educação afegão considera que há uma “vitória da guerra contra o Ocidente pelo estabelecimento de um sistema islâmico”, garantindo, porém, que não se irão adoptar todas as leis que os taliban criaram de 1996 a 2001, anos em que estiveram no poder. O que faz aqui diferença é decerto o pronome indefinido plural “todas”.

O planeta assiste à instalação do medo e do fundamentalismo, e à condenação da população feminina do Afeganistão em todas as faixas etárias sem poder intervir para ajudar as meninas e as raparigas afegãs.

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