Chegámos àquela altura do ano em que o passamos em revista, recordando os acontecimentos mais importantes.
Trump
O acontecimento que marcou o mundo: a tomada de posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos da América. Depois da vitória eleitoral na qual ninguém acreditava, chegou o momento em que o senhor laranja e de cabelo estranho jurou com a mão em cima da Bíblia. Um povo que exige que se jure sobre um livro de fantasia não pode ficar ofendido que um político não cumpra as promessas. Aliás, com Trump essa era a única esperança: que ele não cumprisse o que prometeu. Cumpriu umas, outras foi barrado pelo Senado, e outras piores estarão para vir. O certo é que continuamos todos por cá e para mim é essa a fasquia de sucesso do Trump: se não rebentar com o planeta já tem “satisfaz”.
José Sócrates
Foi, finalmente, acusado de crimes e veremos no que dá. No entanto, é preciso ter em mente que ele é inocente até prova em contrário. Ah. Ah. Ah. Se ele não for condenado de nada eu faço aqui a promessa de começar a fugir aos impostos.
Independência da Catalunha
A Catalunha tentou dar o grito do Ipiranga, mas a coisa correu mal. Pancadaria, prisão e ficou tudo na mesma. Foi mais ou menos como quando disse à minha namorada que devíamos ter uma relação aberta, mas só eu é que podia andar com outras e ela devia ficar em casa a passar a ferro. Acabei a dormir no sofá.
Mortes de famosos
Como em todos os anos, morreu gente famosa. É uma cena que acontece, mesmo aos melhores. Lembro-me do Chester Bennington – o gajo dos Linkin Park – e, mais recentemente, o Zé Pedro-Dos-Xutos. Desejar-lhes-ia paz às suas almas, mas a alma não existe e eles estão mortos e não num sítio melhor. Sorte a deles que assim não vêem a sua morte ser transformada num espectáculo de audiências e de caça ao like por muita gente. Tenho pena do comentador desportivo Jorge Perestrelo já ter morrido antes de ser moda fazer posts a dizer RIP, caso contrário teria tido oportunidade de o homenagear escrevendo “RIP na Rapaqueca.”
Mayweather vs McGregor
O maior evento desportivo do ano foi a luta que opôs Mayweather, glória do boxe, a McGregor, campeão na sua categoria de mixed martial arts. As conferências de imprensa foram mais entusiasmantes do que o combate em si, que foi um bocado seca, como era de esperar. Foi tipo aqueles jogos que se fazem com os amigos quando se está bêbedo: «Quem ganhava numa luta? O Hulk ou o Super-homem?». Neste caso, para a metáfora ser real, o super-homem não poderia voar, nem usar laser dos olhos, nem usar toda a sua força e só poderia saltar baixinho e não dar bojardas de força com os pés. Foi mais ou menos isto que aconteceu. Enganaram bem quem pagou para ver o combate. Vi na net.
Assédio Sexual
Pensavam que eram só coisas más? Não! Este foi o ano do assédio sexual! Salva de palmas para ele! Aliás, foi o ano de denunciar casos de assédio sexual, especialmente em Hollywood, porque toda a gente sabe que dar uma palmada no rabo de uma actriz rica é pior do que uma mulher na Índia ser violada a cada 14 minutos. Atenção que acho muito bem que os porcos machistas como o Harvey Weinstein sejam expostos e julgados pelo que fizeram, acho é que, se calhar, a proporção de alguns destes casos tem sido excessiva. Digo eu que colocar actrizes/actores ricos e privilegiados ao mesmo nível da Malala em termos de coragem de lutar pelos direitos das mulheres é um bocado parvo. É preciso coragem, sim, mas calma lá. Por cá, ainda não houve casos, mas estou ansioso para saber. Deve haver aí uns quantos a tremer e a apagar históricos de mensagens.
Salvador Sobral
Portugal ganhou, pela primeira vez, o Festival da Eurovisão. Salvador Sobral limpou aquilo que foi uma beleza e meteu toda a gente a vibrar por um festival que ninguém quer saber. Foi elevado a herói nacional para depois ser considerado arrogante mimado devido ao célebre episódio do PeidoGate. Depois, como souberam que estava a morrer, voltou a ser muito boa pessoa. Entretanto, já recebeu um coração novo, por isso, caso a recuperação corra bem, podemos esperar que ninguém mais se lembre dele daqui a uns tempos.
Fátima Lda.
2017 foi, também, o ano que marcou o centenário das alucinações de Fátima. Como em todos os eventos de fantasia - como a estreia do Star Wars, Game of Thrones ou lançamento do novo livro do Harry Potter - houve gente vestida a rigor e veio cá o CEO dessa grande empresa mundial que é a Igreja Católica. Veio cá, beijou criançada, velhada desdentada, fez o expelliarmus espirito santo a uma catrefada de coxos, mas o coto não cresceu. Rezou-se em conjunto pela paz no mundo e o fim do terrorismo, mas a coisa continua igual o que me leva a crer que as pessoas não rezaram com força suficiente. No final das contas, foi bom para quem tinha casa para alugar em Fátima e chulou os crentes, mas em terra de cego, quem tem olho é rei, já dizia Jesus.
Terrorismo
Não me lembro de grandes atentados terroristas no Ocidente (deve ter sido efeito placebo das orações em Fátima). Isto se não contarmos o tiroteio de Las Vegas e a igreja do Texas, claro, que esses foram perpetrados por brancos americanos e toda a gente sabe que para ser cunhado como terrorismo só depois de passar no teste do pantone de cores. É meio castanhito ou reza a Alá? Não? Então é só um maluco com parafusos a menos e armas a mais, caso contrário, aí sim, é terrorista e soem os alarmes e não saiam de casa! Ah e no Iraque, Síria e por esses lados continua a haver bombas todos os dias e a morrer gente, mas aí também não conta.
Incêndios
Este ano, o nosso país parecia acabado de sair da casa da Mãe Kikas sem usar preservativo: todo a arder! Ardeu tudo, duas vezes; morreu muita gente, duas vezes; parece que houve falhas e responsabilidades para assumir, mas as pessoas demitem-se e fica tudo na mesma, mas o povinho aplaude. Milhões em ajuda que tardam em chegar ou que se perderam pelo caminho, ninguém sabe bem onde. Caguem nisso que para o ano há Mundial de Futebol!
Para mim, foi um bom ano e espero que para vocês também. Não para todos, que pelo que vou lendo nos comentários, alguns não merecem.
Sugestões e dicas de vida completamente imparciais:
Este Natal sejam solidários e façam um donativo generoso para a Paula Brito e Costa, a directora da Raríssimas. Isso ou ajudem antes a Fundação do Gil, comprando bilhete para este evento de comédia.
Agora que se fala de inteligência artificial, fica a sugestão da série "Westworld" que é do caraças.
O meu espectáculo de stand-up comedy vai passar por Leiria, dia 13 de Janeiro. Bilhetes aqui.
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